quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

O Batman da repartição

Dei uma passada rápida no banco para sacar um dinheiro no caixa eletrônico, mas, na hora de sair, acabei presa na fila da porta automática. Um homem tentava, sem sucesso, entrar. Ele já tinha colocado vários objetos no compartimento da porta: um celular, um relógio, um molho de chaves, algumas moedas e outras coisas que não consegui identificar, mas que poderiam estar impedindo a sua entrada. Nada disso foi suficiente.
A fila atrás de mim cresceu mais um pouco e a de fora já fazia curva. Outro segurança se aproximou e perguntou se não tinha mais nada de metal dentro da mochila. O homem disse que não, mas acabou achando outro celular num dos 500 minibolsos da mochila, que de tão camuflados, mais parecem aquelas portas secretas de filmes da “Sessão da Tarde” e do “Cinema em Casa”.
A gerente da agência se apresentou. Educada, também perguntou se ele realmente não tinha mais nada de metal nos bolsos da calça e da mochila. “Um guarda-chuva? Um desodorante aerossol, talvez?”. Nada. A mulher, então, perguntou se ele se incomodaria de abri-la para que ela pudesse ver o que tinha lá dentro e assim, liberar a sua entrada. O homem disse que não era obrigado a fazer isso e completou: “eles (os seguranças) é que apertam um botãozinho pra travar a nossa entrada! Eu sei que eles fazem isso!”.
Burburinho na fila. Uma mulher na minha frente disse, já bem contrariada: “eu só sei que tenho que estar no ‘Bifão’ às duas em ponto!”. ‘Bifão’, como o nome sugere, é um açougue aqui de Madureira que cresceu e virou um mercadinho. A mulher de trás, na esperança de que alguém concordasse com ela (se fosse aplaudida, seria a glória), disse: "quem não deve, não teme, né?”. Só que o homem continuou lá, trêmulo, mas decidido a não tirar mais nada de dentro da mochila.
O segurança foi até a outra porta e liberou a nossa saída. A moça do ‘Bifão’ não se atrasou para o trabalho. A da frase de efeito, desaplaudida, caminhou cabisbaixa para o outro lado da calçada (“cabisbaixa” é por minha conta). A fila de fora continuou crescendo. Quem passava por ali parou para entender o que estava acontecendo. Eu até fiquei curiosa para saber o desfecho dessa história, mas fui embora porque tudo tem limite.
Espero que o nosso Batman (aquela mochila com 500 minibolsos é equivalente ao cinto de utilidades) seja um homem de bem, tenha vencido a porta automática e conseguido entrar no banco para fazer o que pretendia. Como eu tenho a imaginação de uma criança de 7 anos, já viajei aqui: se a empresa onde trabalha está sem internet e ele, desesperado, correu no banco para honrar o pagamento dos funcionários, esse homem é um super-herói mesmo.


sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

O sanfoneiro só tocava isso


A minha linda novela “A Viagem” acabou hoje e a partir de segunda-feira, o Viva vai exibir “Pedra sobre Pedra”. Quando foi exibida na Globo, lá no começo dos anos 90, o tema de abertura era um sucesso. Quem lembra? ♪ Quem é rico mora na praia, mas quem trabalha nem tem onde morar ♫. Era demais.
Na minha rua, sempre rolava uma Festa Junina superdivertida. Ou ainda rola, não sei. Todo mundo se juntava, cada família levava uma comidinha e a gente dançava quadrilha. Meu pai, antenadíssimo, gravou a música da novela numa fita cassete e apareceu na festa com ela pra variar um pouco o repertório. “Pagode Russo”, “Isto é lá com Santo Antônio” e “Pula a Fogueira” são clássicos que não podem ser esquecidos, mas uma música fresquinha seria recebida com muita alegria. Numa época em que não existia Youtube pra nos ajudar a montar uma playlist digna, a sacada do meu pai parecia uma solução bacana. Teria sido incrível, não fosse o fato de ele ter gravado a música nos dois lados. De cabo a rabo. Ficamos presos pra sempre na abertura de “Pedra sobre Pedra” e nada de o Jorge Tadeu ter a decência de aparecer para dar um sumiço naquela fita.
Peguei implicância do Fagner, queria morrer toda vez que ouvia aquela introdução e pedia em pensamento para o Luiz Gonzaga me acordar daquele pesadelo. Não adiantou. A gente deve ter escutado a música naquele 3 em 1 umas 5 vezes seguidas e o meu pai, no melhor estilo “o sanfoneiro só tocava isso”, custou a se mancar. Hoje, ele jura não lembrar desse episódio. Lembra só da fita de “Nosso Sonho” (Claudinho & Buchecha), também gravada de cabo a rabo, que fez os convidados da festa da minha prima irem do amor ao ódio.