Terá a gratidão eterna de todos nós o cara que criar, no Whatsapp, alertas de segurança a serem enviados pra gente antes de a gente mandar mensagens para nossos contatos e, principalmente, para grupos da família e do trabalho. Seria maravilhoso se, antes de a mensagem ir de vez, aparecesse uma janelinha com algo do tipo: "tem certeza de que deseja enviar esta mensagem para o grupo da família? Teu pai tá aqui, tua mãe tá aqui, teus irmãos tb, teus sobrinhos menores de idade, tua avó...". Ou então: "isto não me parece muito adequado para compartilhar num grupo de trabalho... Depois não diga que eu não avisei, hein?". Podia ser coloridíssimo e pular na tela feito pop-up.
terça-feira, 31 de março de 2015
segunda-feira, 23 de março de 2015
Peso inútil
Todo santo dia, levo o meu guarda-chuva na bolsa. Mesmo sem sinal algum de pé d'água, eu o mantenho lá, firme e forte, cumprindo muito bem o seu papel de peso inútil. Sexta, saí do trabalho e, adivinha? Estava chovendo. Eu nem podia imaginar que o tempo viraria daquele jeito. Agora adivinha quem, excepcionalmente, deixou o guarda-chuva em casa naquele dia e acabou toda ensopada? Isso mesmo, a moça do ponto de ônibus. Eu, não. Eu não dou um mole desses.
segunda-feira, 16 de março de 2015
A sorte dos outros
Um casal caminha à minha frente, na subida de uma passarela na Barra, quando, de repente, a mulher acha uma nota de R$50 no chão. Ela dá um gritinho de felicidade, o cara dá um beijo nela e eu fico ali, atrás deles, com uma sensação de fracasso de fazer gosto. Desde então, ignoro completamente a máxima que diz que um raio não cai duas vezes num mesmo lugar e percorro toda a passarela com os olhos fixos no chão, na esperança de achar qualquer R$5 que me traga alguma alegria.
quinta-feira, 5 de março de 2015
Tamo junto
Outro dia, saí do trabalho e dei uma passada rápida no shopping que fica na calçada oposta. Quando saí de lá, fiquei com preguiça de atravessar as quatro pistas de volta, entrar num ônibus cheio e batalhar por um espaço naquele chão disputado em que meus pés tamanho 39, geralmente, não têm vez. Quando insisto, o que acontece com frequência, costumo ir até o destino num elevé eterno. Mas, não. Eu não estava a fim de encarnar a bailarina naquela sexta-feira.
Como já não tinha mais sol nem teria que acordar cedo no dia seguinte, decidi ir andando até o terminal Alvorada. Fiz uma caminhada de quase meia hora sem pressa, sem sapato desconfortável e com uma quase brisa que impediu que eu desistisse no meio do caminho.
Entrei na sempre cheia e sempre tumultuada fila do BRT e quando pintou a oportunidade de garantir um assento para mim que não fosse do tipo preferencial, corri e sentei. Ao meu lado estava o Washington, que orgulhoso de ter conquistado um lugar na janela, resolveu puxar papo comigo.
Washington tem 23 anos, é vigia, trabalha dia sim, dia não, fica 12 horas em pé e não admite voltar para casa na mesma condição. Concordei com o argumento e a minha atenção fez com que ele desandasse a falar de sua rotina no trabalho, dos chefes maneiros, dos chefes ranzinzas, dos colegas, dos perrengues, de tudo. Fui da Barra até Madureira ouvindo suas histórias.
Antes de o ônibus sair da Alvorada, uma senhora de uns 70 e poucos anos entrou e ficou em pé parada perto de alguns bancos à nossa frente. Ninguém se manifestou e os passageiros que estavam nos assentos preferenciais caíram num sono profundo. Nem o Fábio Puentes seria capaz de apagar tanta gente com tanta facilidade. Cedi o meu lugar. Dona Elza é uma senhora negra, elegante e com um megahair já meio capenga. Não demorou muito para ela também se interessar pelas histórias do Washington. “A senhora tem cara de quem já desfilou muito no Carnaval, não desfilou, não?”, disse ele chamando-na para a conversa. Ela confirmou com um sorrisão.
Washington mora em Mesquita e quando chega em Madureira, encara mais 45 minutos de viagem. Para entrar às 7h no trabalho, tem de levantar às 3h. Antes da construção das estações do BRT, ele levava puxões de orelha porque perdia a hora, acordava às 5h e ficava preso no engarrafamento da Taquara. “Poxa, negão, vou ter que te dar uma advertência…”, disse ele imitando a voz de um chefe ligeiramente culpado por ter de chamar sua atenção.
Não lembro bem como nem por que, mas uma hora lá a Dona Elza entrou num papo sobre negros famosos que ficaram bestas. Alcione? “Nega metida”. Jovelina Pérola Negra? “Era um nojo”. Neguinho da Beija-flor? “Feio pra diabo”. Ela, que não é boba, disse que nem perde tempo “pedindo autógrafo para essa gente de nariz em pé”. Washington, que trabalhou como segurança na Ilha dos Pescadores, falou que via muitos negros famosos por lá e confirmou que é assim mesmo. Disse também que trabalhar naquele lugar tinha um lado bom e um lado ruim. Lado bom: quando vão com a tua cara, os playboys soltam a grana sem motivo aparente. Lado ruim: os playboys que, segundo ele, foram criados com Leite Ninho e que passam o dia todo dentro de uma academia, só querem saber de briga. Washington encheu o saco disso e desistiu da grana extra que garantia ao emendar um trabalho no outro.
Antes de descer na Praça Seca, Dona Elza disse que eu, com esses cabelos que não acabam mais, lembro muito uma de suas netas, a Shayenne. Disse que a menina é metida à beça e que as primas de Minas Gerais não a suportam porque sempre que ela aparece por lá, olha para os outros com ar de superioridade. Fiquei pensando: e se Shayenne fosse artista? Seria um nojo, certamente. Dona Elza não suportaria tanta decepção.
Seguimos viagem e o Washington resolveu me atualizar dos lugares onde já trabalhou como vigia: “na Barra, no Leblon, em Ipanema, no Jardim de Olá…”Jardim de Olá. Ele falou sem muita certeza, eu o corrigi, mas fiquei torcendo para que ele dissesse logo alguma coisa muito engraçada porque eu precisava urgentemente de um bom motivo para rir. Não rolou e o meu cérebro fez questão de me lembrar, a todo momento, a confusão do menino. Imaginei, lógico, um enorme jardim ocupado por pessoas educadíssimas que se cumprimentam com “olás” o tempo todo. O jeito foi conter aquela risada do jeito que dava.
Chegamos ao terminal Madureira. O celular tocou e era o Davi, amigão dele. Washington me apresentou como amiga e disse: “fala aqui com ela!”. Jogou o celular na minha mão e ali ficamos nós, eu e Davi, dois completos estranhos num papo sem papo algum.
Washington tinha que subir a rampa da estação de Madureira para pegar, do outro lado, o ônibus rumo a Mesquita e eu tinha que ficar ali mesmo esperando o meu, que me deixaria em casa em bem menos tempo. Antes, ele me deu seu número de celular, orientou de que maneira eu poderia achá-lo no Facebook e, como grandes amigos que já havíamos nos tornado, afastou-se dando soquinhos no próprio peito como quem diz “tamo junto”. Estava oficializada ali uma próspera e sincera amizade.
Não, eu não o achei no Facebook. Se o achasse, não sei se o adicionaria. Não, o nome dele não é Washington. A Dona Elza também não se chama Elza. Mas a Shayenne é Shayenne mesmo. Este nome eu não tive coragem de mudar.
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