Não costuma dar muito certo esse negócio de colocar o cabelo na mão de qualquer um, não. O meu, que tem vida própria e não esconde de ninguém o ódio que nutre por mim, que o diga. Há 2 anos, eu estava num período de transição. Tinha saído de um salão de beleza especializado em cabelos como o meu porque tava cansada da mesmice e da impossibilidade de tingir como eu bem entendesse. Saí de lá e, pouco depois, comecei a frequentar o salão da Rosa, uma cabeleireira ótima que soube tratá-lo com carinho, amor, paciência e ballayage.
Um dia, eu traí a Rosa. Estava com pressa, de saco cheio deste cabelo que cresce mais rápido do que mato em terreno baldio e corri no salão que tinha perto da minha casa. Pra ir na Rosa, eu teria que pegar um ônibus e eu não estava disposta a encarar uma condução naquele sábado quente. Ir andando até o salão perto de casa era muito mais prático. E assim eu fiz. Cheguei lá e pedi um relaxamento, uma aparadinha no comprimento e outra no franjão. Coisa pouca, coisa rápida. Saí de lá sem um cacho sequer no cabelo, com uma franjinha-marquise e com muito ódio no coração. Onde já se viu esticar um cabelo crespo e molhado pra cortar?! Esse é um princípio básico de todo salão de beleza que se preze!
Quando a mulher meteu a tesoura no franjão, eu gritei "você tá loooouca?!", mas já era tarde. A solução dela? "Ah, é só usar um grampinho de cada lado, assim, ó" e, com muita naturalidade, dividiu o meu cabelo ao meio pra mostrar no espelho que eu poderia muito bem seguir a vida adotando o penteado Maria Bethânia dos Trapalhões. Obviamente não aceitei aquilo como desculpa e fiquei esperando uma solução decente. Já de saco cheio de mim, ela disse: "aparece aí amanhã pra gente dar um jeito...". "Que hora?", perguntei. "Às 10h". Às 9h50 eu já tava lá na porta. O salão, claro, não abriu naquele dia. Era domingo de Páscoa e eu nem me liguei nisso. Voltei chorando pra casa e passei o dia todo estudando maneiras menos escrotas de ir trabalhar na semana seguinte. O microcoque com muitos grampos e muito gel foi a melhor solução. Ou a menos pior.
O dinheiro eu recuperei no sábado seguinte. Até hoje não sei por que eu paguei por aquele serviço de merda, mas o desdobramento desta parte da história é longo e eu tô com preguiça de contar agora. Meu cabelo voltou para as mãos da Rosa, de onde nunca deveria ter saído. Ele segue me odiando, mas desse episódio pra cá, mantemos uma relação de aparências. Melhor que nada, né?
Ah, não falei? O salão da outra fechou pouco tempo depois.
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