O Mercadão de Madureira é aquele tipo de lugar em que você entra, não consegue sair e envelhece lá dentro. É meio Caverna do Dragão, meio Saara (o centro comercial), sabe? Antes daquele incêndio de uns 20 anos atrás era muito pior, mas eu continuo me perdendo nos corredores daquele lugar.
Tem de um tudo no Mercadão: artigos para festas, escolares, religiosos, medicinais... Pensa aí numa coisa impossível de achar. Pensou? Tem lá.
Uma vez, eu estava em Madureira e resolvi dar um pulo lá porque estava atrás de não sei o quê. Mentira, sei, sim. Eu ia a uma festa à fantasia e precisava de uma peruca pra montar a minha personagem. Muitos dos comerciantes do Mercadão são orientais, daqueles que têm o hábito de, na nossa frente, se comunicar entre eles e em suas línguas pátria pra que a gente não saiba do que estão falando e do que tanto riem. Não tenho dúvida de que estão sempre me xingando e rindo da minha cara de palhaça perdida ali, naquela selva de brinquedo, isopor, condimento, papel celofane, bibelô e imagem de santo.
Entrei na loja, perguntei se tinha a peruca do jeito que eu queria e fui imediatamente descartada por uma chinesa por que é assim mesmo que eles fazem quando a gente procura por alguma coisa que eles não têm. Saí, dei uma volta, subi escada, desci escada, mirei outra loja do gênero, entrei, procurei pela peruca em todos os cantos, não achei e me dirigi àquela que parecia ser a dona da loja. Era a mesma mulher e eu demorei uns 5 segundos pra me dar conta disso. Ela olhou pra mim com cara de "cê tá de sacanagem, né?" e não se deu o trabalho de me responder. Fiquei invisível.
Saí e fui achar o que eu buscava em outra loja, também do Mercadão, também de donos orientais monossilábicos, mas fui embora decidida a me matricular num curso de mandarim e, assim que notar que estão rindo da minha cara, encher o peito e dizer: "cês tão falando de mim, né, seus puto?". Tenho certeza de que eles ficarão espantados com a minha sagacidade e entenderão, de uma vez por todas que, enquanto eu viver, não permitirei que eu seja motivo de chacota deles. Nunca mais. Em lugar nenhum. Nem aqui nem na China.
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