Um pedido de informação na rua, quem diria (!), pode render. Ontem à noite, ao sair do Shopping Nova América, perguntei a dois seguranças pra que lado eu deveria ir pra pegar um ônibus pro Norte Shopping. Nenhum deles sabia. Resolvi, então, seguir com uma senhora que ouviu o papo e disse “tô indo pro ponto”.
Saímos de lá juntas e conversando. Na verdade, ela aproveitou pra desabafar, pra dizer o quanto estava cansada do trabalho, daquele shopping sempre lotado (“isso parece uma prisão, menina!”) e que já tá de saco cheio desse calor insuportável. Shirley é o nome dela. 67, 68 anos, mais ou menos. Shirley que há 27 anos trabalha no almoxarifado da Thídel, que está aposentada há 8, mas que não consegue parar de trabalhar porque o chefe não deixa. “Eu já disse pra ele botar uma menina no meu lugar, mas ele não quer. Gosta muito do meu trabalho, sabe?”. Ela completou dizendo que estava louca pra chegar em casa, tomar uma cervejinha com as amigas e ir pro Parque de Madureira assistir ao show do Rodriguinho (ex-Travessos). Ela falou dele com tanta empolgação, que eu fingi achar o cara o máximo. Mandei até um “ele vai estar lá? Que bom!”.
Shirley disse que desde que o marido morreu (há 3 anos) faz tudo o que tem vontade sem dar satisfação a ninguém. Garantiu que é feliz assim. Perguntei se tinha filhos e ela disse que tem uma. Cristiane, de 40 anos, foi morar em NY, quase não dá notícias e deixou aqui uma filha de 15 anos que ora mora com ela, ora com a outra avó. Nem pro enterro do pai Cristiane pôde vir. Shirley disse que não sabe o que ela faz lá, não sabe se casou, mas lamenta por ter certeza de que nunca mais verá a filha. Quando eu vi que ela tava ficando jururu, emocionada, voltei ao assunto “Rodriguinho”. Aí Shirley se animou de novo e lembrou que eu podia ter entrado em qualquer um daqueles ônibus, mas como ficou lá falando da vida, esqueceu de mim. Esperei o dela. Já no 261, ela lembrou que tinha esquecido de comprar a tinta do cabelo e que precisava lavar os tapetes de casa. Falou também que na laje de casa “bate um sol maneiro”. “Fico morena de praia!”.
O ponto do Norte Shopping chegou. Nos despedimos com dois beijinhos, desci e ela seguiu nele. Foi tomar sua cervejinha com as amigas e assistir ao show do Rodriguinho. Foi ser feliz.