domingo, 17 de fevereiro de 2013

Senzala eletrônica


O Canal Brasil exibiu ontem um curta sobre teleatendimento, sobre a vida puxada de quem recebe “vale-coxinha” e vive preso a PAs, naquilo que eles muito bem definiram como “senzala eletrônica”. Meu primeiro emprego foi como operadora de telemarketing. Trabalhei por 6 intermináveis meses com aprovação de crédito. Foi uma experiência quase perturbadora, em que até as idas ao banheiro eram cronometradas. 

Eu era um péssimo exemplo. Queria ir ao banheiro de meia em meia hora, vivia reclamando do frio (ok, isso eu faço até hoje), era criticada por não seguir o script cheio de erros de português, estourava o tempo das ligações, discutia com as vendedoras burras que ligavam pra lá e sequer tinha o direito de pedir um quadradinho da barra de chocolate que o colega do lado malandramente escondia atrás do computador. Até que um dia descobri que podia derrubar “acidentalmente” as ligações. Eu já estava tão revoltada com aquela escravidão, que interromper uma ligação chata virou o meu passatempo. Quando pintava uma vendedora esquentadinha, eu dizia “mas, senhora, consta no sistema que...tu-tu-tu-tu” e magicamente ela ia pro espaço. 

Tudo isso explica a minha paciência fora do comum com teleoperadores. Quando me ligam, eu sempre rejeito a venda, mas deixo falarem todo o script. No que depender de mim, eles nunca baterão meta nem irão para o quadro dos funcionários da semana, mas farão bonito na frente do supervisor.

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