Hoje cedo, no trem, um casal compartilhava mágoas do último Carnaval. "Eu acompanhei de perto todos os problemas do barracão" e "a bandeira da escola pesa, né?", disse ela. "A Velha Guarda tava me enchendo o saco", "os carros entraram todos apagados" e "aquele gerente de Carnaval não presta!", disse ele. E eu ali no meio, com minha pose de estátua viva da Praça Saens Pena, mas ligada em tudo o que eles diziam.
Esse papo de Carnaval me lembrou uma das mais maravilhosas, estranhas e absurdas histórias de trem que eu já ouvi. Pra falar a verdade, nem foi uma exclusividade minha, já que o cara falava aos berros no celular. Lembro que ele estava fechando com alguém um show de samba para gringos e, entre outras coisas, negociava o número de passistas no palco. Ele dizia: "6 mulatas, não! O palco é pequeno, cara! Só dá pra botar 4. Eu sei o que tô falando, pô! Não cabe! Mas, ó, tem que ter pelo menos uma preta. Se tiver como, bota mais de uma. Não manda só mulata, não, hein? Mas tem que ser bem preta mesmo, quase azul." Quer dizer, se eu resolvesse largar tudo pra investir na carreira de passista, ainda teria que batalhar uma cota pra mulatas. Só assim eu não correria o risco de perder a minha vaga pra uma passista mais preta do que eu e que, pelo visto, anda muito mais valorizada no showbiz.
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