quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Só o carteiro


CARTEIRO: boa tarde. Preciso que alguém receba uma correspondência, mas precisa assinar.
EU: ok, eu assino.
CARTEIRO: mas precisa pôr a identidade.
EU: eu posso pôr a minha.
CARTEIRO: mas vc é 'de maior'?!

Posso até não aparentar os 33 anos que carrego nas costas, mas dizer que não pareço 'de maior' é um pouquinho demais. Quando eu tinha 26, me perguntavam se eu tinha 15. Hoje, infelizmente, engano mais ninguém. Só o carteiro.

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Estágios da rouquidão


Estágios da rouquidão provocada pela gripe que peguei há uns dias: primeiro, sensual e levemente sussurrada como a voz da Carla Bruni. Depois, pulei para um tom mais grave, como a voz da Nair Bello. Agora tô no fundo do poço: regredi mais ainda e cheguei ao estágio Márcio Canuto.

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Chicoteada


Por pura preguiça de ir até o armário pegar uma toalha pra enrolar no cabelo, fui até o varal, catei uma e não vi que um pregador de madeira continuava preso a ela. Fui pro banho, acabei o banho, joguei o cabelo pra frente e, no tato, achei a toalha. Aí eu a joguei no cabelo, esfreguei, esfreguei, esfreguei, enrolei, joguei pra trás com vontade e fui chicoteada nas costas pelo pregador. Senti uma dor tão ridícula e tão insuportável quanto aquela do carrinho de supermercado no calcanhar que eu falei aqui outro dia.

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Frozen no Valqueire

Vizinha minha disse pra minha mãe que no Guanabara do Valqueire, duas mulheres disputaram o último quilo de açúcar Neve (R$0,92 a unidade). Uma puxou de um lado, outra puxou do outro, aí acabaram rasgando o saco. Putas da vida, tacaram açúcar uma na outra e assim, promoveram uma forte nevasca em pleno Valqueire. Não é maravilhoso? Já quero as imagens das câmeras dessa loja. Pago bem.

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Minha gerente sorridente


Há uns dias, a gerente do banco me ligou com sorriso na voz e marcou uma hora pra eu ir lá fazer uma tal atualização de dados. Uma isca, né, pra me oferecer algum serviço, mas como eu já ia mesmo para aqueles lados, fui.
Assim que cheguei, perguntei quem era a Eliane. Vou tão pouco lá, que nunca sei quem é a minha gerente. O estilo camaleoa dela também não ajuda muito. Eliane já foi crespa, lisa, morena e ruiva. Agora é loira com fios levemente ondulados. Ou será o resultado de uma progressiva que precisa ser renovada? Não sei. Bom, o segurança apontou e lá fui eu até a mesa dela. Eliane me recebeu cheia de sorrisos, se empenhou pra arrancar um meu, mas como idas ao banco não costumam me animar muito, devolvi um sorrisinho amarelo mesmo.
Eliane começou, então, a fazer a tal atualização de dados, que não deve ter durado mais do que 3 minutos. Depois, como quem não quer nada, me apresentou um cartão de crédito que, segundo ela, seria muito útil pra mim. Agradeci, mas recusei. Falei que já tenho dois, que eles me bastam, que mal dou conta deles, que não preciso de mais um e blá blá blá, mas Eliane sorridente insistiu. Recusei novamente. Eliane, cada vez menos sorridente, insistiu mais um pouco. No meio da minha explicação, ela estendeu a mão e disse meio impaciente: “tá, boa tarde!”. E Eliane, a gerente sorridente, nunca mais sorriu pra mim.

sábado, 4 de outubro de 2014

Visita de Annabelle


Não tenho estrutura pra ver filme de terror, mas hoje, sei lá por que razão, me enchi de coragem e resolvi assistir “Invocação do Mal” sozinha na sala. Não basta ser filme de terror; tem também que ser baseado numa história real.
Pois bem, estava eu aqui já bem arrependida de estar vendo esta merda, mas certa de que, se tinha começado, iria até o fim. De repente, do nada, sem que eu tivesse dado algum comando, o volume da televisão começou a diminuir. Pânico. Desespero. Cagaço. Não, não era a Annabelle. Era o meu pai, do corredor, fora do meu campo de visão, com o controle remoto na mão. A gritaria do filme o incomodou e ele resolveu vir atrás de sossego.

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

No meu tempo era diferente


Eu me dei conta de que rompi definitivamente todos os laços que tinha com a juventude quando me ouvi dizendo "aquela garotada" ao me referir a pessoas mais novas do que eu. Pra uma pessoa há anos acostumada a dizer "tudo joia" ao invés de "tudo bem" e "bacana" ao invés de "maneiro", é até normal. Tô num caminho sem volta. Próximo passo: dizer "ele é um pão" ao invés de "ele é um gato".