Dois garotinhos uniformizados e com mochilas azuis apareceram sozinhos, hoje cedo, na fila do BRT. Não deviam ter mais do que 9 anos. Logo ganharam a simpatia dos seguranças e dos passageiros, que riam das gracinhas que eles diziam com uma animação matinal que eu francamente invejo.
Eles eram fofos, mesmo. Eram engraçados e meio malandros no jeito de falar também. Ouviram de alguém da fila aquela piadoca que todo mundo ouviu pelo menos uma vez na vida: “é pra ir pra escola pra estudar, não só pra merendar, hein?”. Como toda criança que ouve isso, os dois sorriram sem terem achado graça alguma.
Eles tiveram prioridade no embarque, ninguém reclamou e logo pediram que o ar fosse ligado. Pedido feito, pedido atendido, ainda que não por causa deles. Os dois fizeram uma viagem curta; foram de Madureira até a Praça Seca. Nem 10 minutos. Quando levantaram para descer, uma passageira disse com a autoridade de uma mãe: “é pra ir direto pra escola, não é pra ficar de bobeira na rua, tá?”. Um deles ficou quieto, mas o outro respondeu: “a gente tá indo pra escola, tia! A gente tá atrasado.”. E a mulher completou: “ah, bom! Tem que estudar mesmo pra não ter de andar de BRT pro resto da vida”. Aaaah… Os meninos desceram e uma lágrima quase correu no canto do meu olho.
Agora veja você… Desde quando o BRT é uma exclusividade dos que não puderam estudar? Indignada, quase esfreguei o meu diploma e os meus boletins escolares na cara dela. Só não fiz isso porque não costumo andar com o meu diploma e os meus boletins escolares por aí. Mas foi por pouco.
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