sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Três segundos


Almocei no Village Mall, mas antes de voltar ao escritório, passei no McDonald’s para comprar um sundae. Comprei e fui caminhando, sem pressa, rumo à saída. Quando eu estava prestes a cruzar a fronteira entre o shopping e a rua, vi a porta automática da entrada se fechando. Eu não estava perto o suficiente para passar por ela, mas como curto me dar minidesafios e gosto de testar os poderes que juro ter sobre as máquinas, dei uma acelerada no passo.
Não consigo ver uma porta automática se fechando sem impedir que isso aconteça sem a minha passagem. Então lá fui eu, cheia de autoridade, caminhando até ela como se dissesse “ei, bonitona, onde você pensa que vai com tanta pressa?”. Eu não estava na direção da porta, então tive que ir, meio na diagonal, para atingir o meu objetivo bocó. Exageros à parte, era quase uma questão de honra passar por ela antes que se fechasse por completo. Sim, eu me prestei a isso. Sim, sou uma criança de 8 anos aprisionada no corpo de uma mulher de 34.
Mas fui traída. Estiquei o braço para que o sensor entendesse que tinha alguém ali, mas a porta ignorou o meu recado e fechou em cima de mim. Nem quis saber. Corpo dentro do shopping, mão esquerda e sundae do lado de fora. Nada mais patético, nada mais ridículo.
A porta levou uns 3 segundos para entender que tinha um obstáculo e, vingativa, me torturou. Foram 3 intermináveis segundos, o suficiente para que eu tivesse um minipânico, arregalasse os olhos, suasse frio, tivesse uma taquicardia, o ar me faltasse, essas coisas todas. Mentira, claro, mas rolou uma tensãozinha escrota, sim. Agora uma coisa é verdade. Nessas horas, acho que o cérebro não oxigena direito e eu perco a capacidade de distinguir o simples do complexo. Naqueles 3 segundos de insanidade, por exemplo, a ideia louca que passou pela minha cabeça de que eu poderia ficar presa para sempre fez a razão dar lugar ao desespero. É em situações assim que penso nas coisas mais extremas e mais absurdas, como ter de cortar a porta de vidro para eu sair. Sempre penso numa solução radical para um problema relativamente bobo.
O segurança viu aquela cena ridícula, viu o meu desespero e, óbvio, riu. Ele tentou disfarçar, mas eu bem vi. Ri junto para deixá-lo à vontade, então ele se permitiu rir mais descaradamente. Eu, meu braço esquerdo e o sundae fomos salvos sem arranhões. Traumatizada, prometi para mim mesma nunca mais desafiar uma porta automática na minha vida.
Não dizem por aí que as máquinas vão dominar o mundo? Se isso está perto de acontecer, eu não sei, mas que elas já começaram a fazer um silencioso e violento protesto, eu não tenho dúvida. Taí a sacana porta do Village Mall que não me deixa mentir.

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