Num boteco perto da minha casa, sentadas à mesa, três senhorinhas conversavam. No centro, uma garrafa de Skol. Na direção de cada uma delas, um copo devidamente abastecido. Duas delas estavam de costas para mim. A que estava sentada de frente, cujo rosto eu podia ver, gesticulava muito. Era exagerada de um jeito maravilhoso. Quanto mais eu me aproximava, mais largos os seus movimentos pareciam ser.
Passei pelo trio e tudo o que eu fui capaz de ouvir foi o seguinte: “se ela passasse por aqui agora, eu caía no pau com ela”. A vontade que deu foi de fingir que meu tênis tinha desamarrado. Eu só precisava de um bom motivo que justificasse uma parada repentina e estratégica ali, perto delas, mas, lamentavelmente, nem de tênis eu estava. Desolada, segui meu caminho sem saber o motivo daquela indignação toda e que a cervejinha, certamente, ajudou a botar para fora.
Ouvi uma frase fora de seu contexto e que sugere inúmeras interpretações. Também não sei quem será a receptora da porrada. Wanda? Dalva? Marlene? Odete? Jamais saberei seu nome. Não sei idade, estado civil, que tipo de relação tem com a senhorinha indignada, onde mora, do que vive, nada. Só sei que é uma mulher.
Depois de anos dedicados à prática de ouvir histórias de desconhecidos na rua, poucas vezes eu fiquei tão frustrada por não saber quem são os envolvidos e por que viraram assunto de alguém. Aprimorei técnicas, testei os limites da minha audição, desenvolvi formas de contar as histórias, mas, desta vez, nada disso teve serventia.
A fim de acalmar o meu coração, peço que me enviem relatos de mulheres que, nas próximas semanas, forem pegas na curva. Tenho muitas perguntas para fazer a quem cair no pau com uma senhorinha braba, gordinha, de óculos, cabelo acaju, movimentos largos e que curte tomar uma Skol com as amigas.