quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Ninguém sai!

B31 Voices: http://goo.gl/cZfli6  FB

Entrei no Itaú e me dirigi ao caixa eletrônico. Pus meu celular em cima da máquina, saquei um dinheiro, saí do banco, atravessei a primeira pista da Estrada Intendente Magalhães, atravessei a segunda e já na calçada oposta, dei falta do celular. Tentei senti-lo no bolso da calça, mas eu estava de vestido. Não tinha bolso. Dei uma olhada na bolsa para ver se numa ação mecânica eu tinha jogado ele lá, mas não. Também não estava.
Atordoada, atravessei a segunda pista da estrada, que agora era a primeira, depois a primeira, que agora era a segunda, entrei assustada no banco e atraí olhares. “Meu celular! Eu perdi meu celular aqui dentro! Ai, meu celular…”. Por pouco eu não gritei “ninguém sai!”, mas aí seria um pouco demais. Comoção no banco. Todo mundo sabe o quanto é custoso ter um celular no Brasil. Dar o mole de perder, então, é de chorar.
Uma senhorinha se aproximou de mim, pediu meu número e nos primeiros segundos, eu simplesmente não sabia qual era. Hoje em dia a gente não grava mais o número de ninguém e àquela altura, eu já tinha esquecido até o meu, que é ridículo de tão fácil. Lembrei meu número. Ela ligou, disse “tá chamando…” e derrotada eu exclamei: “Ai, Meu Deus, tá no modo silenciooooso!”.
Todas as máquinas estavam sendo usadas e eu, tomada por uma coragem e por uma ousadia que só o desespero dá, fui passando a mão naqueles cativeiros de celulares de todas as máquinas. Um absurdo, eu sei. “Com licença, desculpe, perdi meu celular!”. “Com licença, desculpe, perdi meu celular!” “Com licença, desculpe, perdi meu celular!” “Com licença, desculpe, perdi meu celuACHEI!”. Alívio no banco. Ergui o celular como um troféu, as pessoas ensaiaram um semiaplauso, agradeci a todos e, constrangida, saí do banco de cabeça baixa prometendo para mim mesma nunca mais voltar lá, promessa que eu, obviamente, já descumpri.
Ficou a lição: antes de sair do banco, nunca, jamais, em hipótese nenhuma esquecer de conferir se a operação foi finalizada, retirar o cartão da máquina, olhar ao redor para ver se há alguém em atitude suspeita e dar aquela passadela* de mão no cativeiro de celulares.
*Passadela: do verbo passar. Creio que esta palavra existe apenas no meu dicionário.

Nenhum comentário:

Postar um comentário