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Certa vez, uma colega de faculdade fez aniversário e resolveu fazer um churrascão em casa para comemorar. Ela chamou os colegas mais chegados, aqueles que, todos os dias, voltavam no mesmo ônibus rumo a Madureira e que durante todos aqueles anos souberam se manter unidos. Todos confirmaram presença, todos deram certeza de que iriam. Eu, tola, acreditei e lá fui eu pr’aquele que seria um dos dias mais constrangedores e em que mais exercitei a minha autopiedade de toda a minha existência.
Quando cheguei, a festa já estava rolando. Fui cumprimentar a colega aniversariante e sua família. Olhei para os lados e não vi um rosto conhecido sequer. Pensei: “estão a caminho, certamente”. Não estavam. Com o passar do tempo, eu tinha cada vez mais certeza disso. A aniversariante sacou a cilada em que me meti e, fofa, ficou um tempinho ali me fazendo companhia, mas como eu tenho bom senso, dei um tapinha nas costas dela e a liberei para circular pela própria festa.
Fiquei num cantinho, num esforço fora do comum para manter intacto um sorriso que dava a entender que eu me bastava e era a minha melhor companhia. Obviamente não convenci a colega, que tratou de me colocar sentadinha na mesa de uma amiga dela que eu conhecia de vista. Nesta mesa, a “amiga que eu conhecia de vista” estava acompanhada dos amigos dela. Eles riam, brincavam entre eles e eu ali, invejando toda aquela harmonia. Tão logo a aniversariante se afastou da mesa, a “amiga que eu conhecia de vista”, sem cerimônia alguma, sentou-se completamente de costas para mim. Não fez o menor esforço para me entrosar com a turma dela e preferiu me excluir totalmente da rodinha. Realmente não fazia muito sentido eu estar ali, mas, poxa… desnecessário.
Se fosse hoje, eu recorreria às redes sociais, mas como naquela época ainda não existiam smartphones, continuei relegada. Mas não por muito tempo! Peguei meu Sony Ericsson e fantasiei toda uma conversa, coisa que eu, modéstia à parte, sei fazer muito bem. Simulei pausas para que a pessoa imaginária pudesse falar, gesticulei tudo que eu pude, ri, dei bronca, enfim, fiz tudo o que a minha imaginação permitiu. Sim, eu me prestei a esse tipo de coisa. Foram 45 minutos de muito autoconstrangimento, mas eu sabia que somente uma conversa animada ao telefone impediria que alguém ficasse sem graça, incomodado mesmo de me ver ali, sozinha. Foi o jeito que encontrei de não me sentir tão avulsa. Além do mais, de uma maneira ou de outra, eu estava acompanhada.
Encerrei a conversa imaginária e fui embora, sob protestos fingidos da aniversariante e com a desculpa de que eu tinha outra festa para ir. Quem nunca mandou essa desculpa, que atire o primeiro cajuzinho. Mas por que protestos fingidos, Renata? Porque ao ir embora, eu fazia um favor enorme para nós duas. Não que ela não me quisesse ali, na festa dela. É que ter de me dar tanta atenção já estava exaustivo demais.
Fui para casa fuzilando mentalmente cada um dos meus amigos canalhas que me deixaram passar aquele papelão e estou até hoje esperando a conta do falso telefonema, que pela duração, deve ter sido os olhos da cara.
Ah, se você me vir na rua falando animadamente ao celular, desconfie. Pode ser fingimento.
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terça-feira, 1 de março de 2016
Minha melhor companhia
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