domingo, 7 de abril de 2013

Help


Eu devo ter cara de boa ouvinte. E sou mesmo! Ouço e opino, embora eu não conte com tanta gente assim a fim de, vez ou outra, inverter os papéis. Mas gosto de ouvir. 

Hoje cedo eu peguei o trem na Central e pouco antes de a porta fechar, uma mulher entrou correndo, sentou ao meu lado e deu graças a Deus por ter encontrado o vagão geladíssimo. Eu estava ali há uns 5 minutos e como vocês devem imaginar, já estava congelando. Como sou uma friorenta prevenida, sempre tenho na bolsa um casaquinho ou uma pashmina pra dar aquela aquecidinha maneira. Aí ela, hilária, começou a falar. E não parou mais. Ela foi dando tantos detalhes da vida, que eu comecei a fazer anotações na frente dela mesmo. Nem dois minutos se passaram e ela já estava morrendo de frio também. Fiz a fofa e transformei a pashmina num cobertorzinho pras duas. E lá estávamos nós, duas estranhas dividindo o mesmo agasalho. 

Socorro é o seu nome. Contou que é de Campina Grande e que mora no Rio desde 1970, ano em que a mãe faleceu. Mora em Copacabana – “moro em Copacabana, mas no morro! No morro dos Tabajaras.” – e estava indo a Nilópolis, feliz da vida, rever amigos e primos. Socorro me contou que trabalha num mercadinho lá no morro mesmo, tem 53 anos e é casada com o Bahia (33 anos), que trabalha como montador de móveis das Casas Bahia, mas que “também atende à sociedade de Copacabana”. Ela disse que ele jura ser fiel, que ela é a mulher da vida dele, mas como é desconfiada, bota gente pra vigiá-lo. “Eu digo, ó, tu não apronta comigo, não, hein?”. Ela vive dizendo isso pra ele. 

O morro inteiro o conhece. Lá, ela é conhecida como “Help”, a mulher do Bahia. “As pessoas devem achar que eu sou dona das Casas Bahia, né?”. Eu ri. “Estamos há 10 anos juntos, entre tapas e beijos. Eu mando ele ir pro inferno, mas ele não vai!”. Eu ri de novo. Socorro tem 4 filhos: Emerson Franklin, Redson, Marisa Kelly e Isabella Soraia. É avó de Layse Manoela, de 3 anos. Como não amar esses nomes, né? Um filho mora no Rio, outro em Boqueirão e as meninas vivem com a avó em João Pessoa. Socorro é muito apaixonada pela neta, que foi carinhosamente apelidada de ‘copinha’ porque nasceu no primeiro dia da última Copa do Mundo. Ela me contou que comprou uma sandália de pedras ‘chiquésima’ na Di Santinni e mandou pra menina copinha. 

Quando viu que a minha estação estava se aproximando, ela perguntou se eu tinha Facebook e disse “me ‘adêdê’ lá!”. Depois pediu pra eu anotar o celular e o e-mail dela (o e-mail é sensacional!). Falou que me achou legal (não sei como... eu mal abri a boca!) e que qualquer dia desses vai me chamar pra tomarmos umas cervejinhas. Pediu pra eu ligar antes, que é pra ela ter tempo de ir me buscar na entrada do morro. É capaz de eu ir mesmo.

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