sábado, 28 de novembro de 2015
It`s me...
Você entra no Whatsapp. Desliza o dedo pelos contatos e vê que um deles, um que muito lhe interessa e com quem você não conversa há tempos, está com uma foto nova que parece boa aos seus olhos. Você abre a conversa e, curiosa, clica na foto. Mas aí o dedo corre para a esquerda e, pimba!, acidentalmente liga para o tal contato. Desespero. Pânico. Você corre para cancelar a ligação, mas é tarde demais. Por mais que você queira se enganar, no fundo, no fundo sabe que o cara já ouviu o toque. Não tem como desfazer a ação, voltar no tempo ou acender uma vela para o santo protetor dos fazedores de merdinhas. O aplicativo, impiedoso, já te entregou, não tem jeito. Mas aí o contato escreve perguntando se você ligou para ele. Sem ter o que dizer, você dá a resposta mais cretina que poderia dar: “liguei?! Pensei que era você quem estava me ligando…”. Você sustenta a mentira, ambos riem, dão continuidade ao papo e você, secretamente, agradece por ter vacilado o dedo ao clicar na foto de perfil. Não que isso tenha acontecido comigo. Jamais! O fato é que ninguém está livre disso. Nem eu.
sexta-feira, 27 de novembro de 2015
A barra de ferro
Às vezes, quando estou no ônibus, no trem ou no metrô, eu me agarro a uma daquelas barras de segurança e sinto a minha mão muito confortavelmente repousada ali. Às vezes, demoro para perceber que o motivo de tamanho conforto é a mão de um desconhecido qualquer que, quentinha, acolhe a minha e me livra do contato com a sempre gelada barra de ferro. Sem querer, forço intimidade com um estranho.
Mão na mão, pele na pele e doses e mais doses de constrangimento. Sem graça com aquela situação e sem saber direito o que fazer para se livrar do peso da minha mão folgada e espaçosa, o desconhecido vai retirando a sua, de mansinho, para não ser indelicado. Tudo para que eu não perceba. Só aí que eu me dou conta.
É como fim de namoro em que a parte desinteressada resolve abandonar o barco, mas não o faz de uma hora pra outra, de maneira abrupta, por não querer magoar a parte ainda muito apegada e emocionalmente instável.
quinta-feira, 26 de novembro de 2015
Plástico-bolha
Há uns anos, eu e uma amiga estávamos sem grana para comprar um presente maneiro para um amigo em comum. O que nós fizemos? Unimos forças e fizemos o nosso presente. Compramos uns dois ou três metros de plástico-bolha, fomos nas Lojas Americanas e compramos 4 CDs (daqueles de R$9,90, sabe?) de clássicos dos anos 60, 70, 80 e 90 e fizemos 4 apostas na Mega-Sena. Incluímos um termo, que foi assinado, em que ele cedia 30% do prêmio para nós duas, caso ganhasse. Fizemos um embrulhão e lá fomos nós para a comemoração. Infelizmente, ele não ganhou na Mega-Sena, mas riu um bocado. E nós passamos a noite toda cantando, bebendo, rindo e estourando o plástico-bolha.
sexta-feira, 20 de novembro de 2015
Encomenda de fim de ano
Outro dia, a caminho do trabalho, passei por uma casa aqui, perto da minha, com uma plaquinha pendurada em que se lia “Bolos, tortas, salgados, Lídia”. Só isso. Uma plaquinha tão sucinta quanto um telegrama. Não tinha um telefone de contato, nada. Só as iguarias feitas ali e o nome da provável doceira/salgadeira no final.
Saquei o meu celular para fazer uma graça qualquer, no Snapchat, e comecei a filmar. Quando me dei conta, vi que Lídia estava sentadinha na varanda olhando para mim. Imediatamente baixei o celular e, constrangida, pedi o telefone dela para que eu, quem sabe um dia, encomende um doce. Feliz da vida, ela me disse o número.
Tenho para mim que Lídia passa todas as manhãs ali, sentada naquela varanda, à espera de um cliente que ainda não deu as caras. De repente surjo eu levando um pouco de esperança e a certeza de que valeu a pena ter acreditado no talento e investido no negócio próprio. Fiquei tão culpada por ter criado nela aquela expectativa, que achei adequado ligar algum dia para saber quanto é o cento da rabanada e fazer a minha encomenda de fim de ano.
Dias depois, passei novamente em frente àquela casa e conheci a Dona Jaçanã, mãe da Lídia e sua ajudante no preparo de bolos, tortas e salgados. Parei dois minutos ali para saber quem ela era e para sondá-la sobre os quitutes da Lídia. Era manhã de sábado e Dona Jaçanã estava apoiada no portão acompanhando o movimento da rua.
Descobri que “Jaçanã” significa “a que berra, grita”. Acho que a maior função de Dona Jaçanã é ficar ali, plantada no portão, mandando uns “vem, gente, vem que é bom à beça!” para atrair novos clientes para a filha.
Liguei ontem para a Lídia. Perguntei se ela fazia rabanadas, certa de que receberia uma resposta positiva. Mas, não. Lídia não faz rabanadas. Ela perguntou a que tipo de evento eu irei — rabanadas não sugerem alguma coisa?— e eu inventei uma confraternização de fim de ano do trabalho. Ela, então, sugeriu um bolo de frutas cristalizadas. Odeio frutas cristalizadas. Agradeci, disse que voltaríamos a nos falar mais para frente e desliguei. Não foi desta vez, Lídia. Não foi desta vez.
domingo, 15 de novembro de 2015
O lança-confetes
Em março, no aniversário do meu afilhado, coube a mim a missão de soltar o tal do lança-confetes, uma espécie de bastão que joga no ar um monte daqueles papeizinhos prateados que “colam na pele feito tatuagem” (isso já deu música? Pois deveria), especialmente quando a gente mais transpira.
Pois bem. Na hora do parabéns, pediram que eu me posicionasse numa ponta da mesa do bolo e um rapaz, amigo deles, na outra. A ideia era ativar os bastões de ambos os lados para dar aquele lindo efeito cascata no meio, tal qual Cafu se declarando para a Regina na final da Copa do Mundo de 2002. Thiago, o aniversariante, era o meu Cafu.
Só que ativar aquele bastão não é tão simples assim. Pelo menos não para mim. O rapaz que estava na outra ponta o fez sem dificuldade, porém os confetes erraram o caminho e ao invés de caírem no centro, no ponto onde eles encontrariam os meus, vieram diretinho para a minha cabeça.
O repertório de clássicos de aniversário estava acabando, já tínhamos chegado ao “Derrama, Senhor”, a canção derradeira, e nada de eu conseguir ativar o meu lança-confetes. O que eu fiz? Mais que depressa, entreguei o bastão ao meu competente adversário que, em segundos, deu liberdade aos papeizinhos. E o que foi que aconteceu? Isso mesmo, a história se repetiu. Tomei outro banho de confetes. Os convidados riram da minha cara e eu passei uns 3 dias tirando aquela merda do cabelo.
Para me zoar, há quem me compare à Globeleza. Naquele dia, essa comparação fez mais sentido do que nunca.
quinta-feira, 12 de novembro de 2015
Assento preferencial
O ônibus aparece ao longe e o segurança grita: "quem vai no Penha entra nesta fila aqui!". Confusão na fila. As pessoas começam a reclamar do empurra-empurra. O ônibus se aproxima. Expectativa para a abertura das portas. Tensão na fila, muita tensão. As portas se abrem. Correria, muita correria. Corro também para não ser pisoteada e não ficar para trás. Os mais ágeis conseguem se sentar e comemoram suas pequenas vitórias. Até que um rapaz, desolado de dar dó, exclama aos berros: "caralho, sentei no preferencial, puta que pariu!".
Tô rindo até agora.
segunda-feira, 9 de novembro de 2015
A passageira ao lado
Os personagens mais curiosos e mais ricos estão a bordo de algum transporte coletivo. Ouve-se de tudo durante uma viagem, por menor que ela seja. Basta ter uma audição bem apurada, a habilidade de identificar uma boa história e se deixar levar pelo que as pessoas contam por aí.
Há tempos, isso é o que eu mais gosto de fazer nas minhas idas e vindas do trabalho. Ouvir histórias de desconhecidos no trem, no metrô, nos ônibus comuns que ainda circulam e no BRT me distrai mais do que qualquer combinado de 5 amendoins (3 com casca e 2 sem) por R$2 que os vendedores ambulantes anunciam, a plenos pulmões, como o mais vantajoso e mais incrível passatempo de viagem. Profissionalizei o negócio de tal maneira, que ali mesmo tomo nota das frases mais impactantes para escrever depois.
Melhor do que pescar uma conversa aleatória, é ser selecionada para ouvir a história de alguém. Amo quando um bom contador me identifica como uma ouvinte atenciosa e, de uma estação à outra, fala para mim, só para mim, o que tem vontade. Mas isso é raro. Geralmente reconheço uma boa história enquanto ela é contada a outro passageiro (normalmente um amigo do contador) ou relatada ao celular, como é o caso da da Dorinha, que eu narrarei aqui, hoje.
Entrei no BRT e sentei ao lado de uma mulher que, muito indignada, conversava ao celular num tom elevado demais para aquela hora da manhã. Aquilo logo chamou a minha atenção, mas, embora pareça, não foi uma escolha minha sentar ali. Foi sorte mesmo. Aquele foi o único assento que restou. Qualquer passageiro que prefira aproveitar os 40 minutos que separam Madureira da Barra para tirar um cochilo, teria odiado aquilo. Eu não. Eu gosto mesmo é dessa gente que fala alto como se estivesse na sala de casa ou muito à vontade deitada num divã. Lá atrás, na minha infância, muito antes de eu optar por Comunicação, cogitei cursar Psicologia. Talvez isso explique alguma coisa.
Não, eu não sentei ao lado da Dorinha. Sentei ao lado de alguém que descia a lenha nela. Pelo que eu entendi, Dorinha não é fácil. Dorinha não é flor que se cheire. Dorinha é alguém bem difícil de lidar. A passageira ao lado, que eu chamarei de Lia, dizia barbaridades a respeito dela pelo celular. Disse, por exemplo, que Dorinha é uma mulher despeitada, nariz em pé e que não assume seus erros. Como não se agarrar a uma história que já de início se apresenta assim para mim?
Não demorou muito para eu descobrir que Lia conversava com a mãe – que eu chamarei aqui de Dona Fulana –, que mora em Recife e sofre na mão de Dorinha. “Era pra senhora ter uma nora abençoada, mamãe!”, disse Lia muito inconformada. Dorinha é tão mau-caráter, que teve a capacidade de falar mal da Leonora, que tanto a ajudou, para Letilson. Leonora é irmã de Lia e de Letilson, o marido da vilã da história.
Letilson me pareceu meio bunda-mole. Dorinha faz dele gato e sapato, o sacaneia de tudo quanto é jeito, mas o homem não se mexe. Prefere não se meter em confusão, mesmo que para isso tenha que ver a própria mãe cortar um dobrado na mão daquela nora má. Dorinha usou e abusou do bom coração de Dona Fulana e de Leonora, deitou na sopa enquanto pôde e hoje é só ingratidão. Dorinha é uma mulher ruim.
“Quando Leonora vier pra cá, aí é que eu quero ver!”. Lia disse também que a irmã tem uma luta danada com a filha Leandra, uma garota-problema que só dá dor de cabeça, e que Letilson nem a procura para saber se precisa de ajuda. Ele vive em função da mulher. Não sei se acho mais adequado dizer que Letilson só tem olhos para Dorinha ou que está cego de amor.
“Quem vai acudir a senhora aí?”, disse Lia preocupada com a mãe que, com a vinda definitiva de Leonora para o Rio, dividirá o quintal apenas com a sonsa da Dorinha e seu marido pau-mandado. “Ela não levantou ainda, não é?”, quis saber a minha colega de viagem. Acomodada, abusada, dissimulada e manipuladora profissional. Um psicólogo do “Casos de Família” descreveria a tal Dorinha mais ou menos assim.
Pelo que a Lia conversou com a Dona Fulana, Dorinha não sabe o que quer da vida, mas sabe muito bem como aproveitar o tempo livre que tem: pondo um contra o outro. Aquela ali adora um disse me disse, adora uma intriga. Foi, inclusive, o que ela tentou fazer ao falar absurdos da sogra para a Eliane, o que fez com que a amizade delas estremecesse. Por sorte, o mal-entendido foi esclarecido, Dona Fulana e Eliane voltaram às boas e eu, lamentavelmente, fiquei sem saber, em detalhes, a origem e o desfecho desse bafafá.
“O problema tá nela, mamãe, ela tá carregada, é uma derrotada”, disse Lia que lembrou também quão mal-agradecida é a cunhada, que sequer reconhece tudo o que já fizeram por ela. “Não fosse a gente, ela estaria presa até hoje”, completou. O que Dorinha deve ter aprontado de tão grave para ter ido parar na cadeia? Matou alguém? Roubou alguém? Desacatou alguma autoridade? Tudo é possível quando se trata de Dorinha. Só não entendi até agora o que ela fez para merecer a ajuda dos parentes de Letilson. Com esse histórico desavergonhado de maldades, eu já teria largado de mão há muito tempo! Seriam elas pessoas muito evoluídas que passam por cima do orgulho e estendem a mão a quem precisa, seja lá quem for? Vai saber…
Todo mundo tem um pé atrás com a Dorinha. “Todo mundo fala mal dela, até na frente dela”, disse. Dinalva e Ana Gláucia, que pelo pouco que eu ouvi são uma espécie de irmãs cajazeiras local, são duas dessas pessoas. Elas sabem muito bem do que a Dorinha é capaz. Segundo elas, a moça “tem o coração sujo”. As duas conhecem o passado de Dorinha de tal modo, que se resolvessem botar a boca no trombone, acabariam com a raça dela. Pelo menos foi isso o que a Lia garantiu para a Dona Fulana. Tenho para mim que Dinalva e Ana Gláucia querem mais é ver o circo pegando fogo.
Uma hora lá, a Lia se calou. Parecia ouvir o desabafo de Dona Fulana. Pouco depois, disse: “Deixa essa peste pra lá! Dá desprezo!” e voltou a descer o malho em Letilson que, cá entre nós, só pode ter o rabo preso com alguma coisa para aguentar calado tudo o que a mulher apronta.
Dona Nevinha, que eu não faço a menor ideia de quem seja exatamente nessa história toda, é a única pessoa a jogar no time de Dorinha, é quem a protege de alguma maneira. Só sei que elas duas são assim, ó, unha e carne. A malandra mulher de Letilson passa a tarde inteira na casa dela fazendo sabe lá Deus o quê. Dona Nevinha pode parecer inofensiva com esse nome fofinho, mas não me engana. Acho que elas são cúmplices e, mais cedo ou mais tarde, vão dar um golpe nessa família e sumir no mundo. Se bobear, Letilson está envolvido nesse plano e vai meter o pé também. Lia, Leonora e Dona Fulana que fiquem espertas.
Lia está longe, mas ajuda a mãe como pode. Ela se comprometeu a mandar mais dinheiro quando acabar de pagar o carro e garantiu que Leonora também vai chegar junto assim que puder. Elas querem mandar uma menina lá na casa de Dona Fulana para fazer o grosso, uma faxina geral de tempos em tempos, já que não podem contar com o irmão, muito menos com a mulher dele. Dorinha bem que poderia arregaçar as mangas e, vez ou outra, passar uma vassoura pela casa da sogra, mas todos nós já sabemos que esse não é o tipo de gentileza que ela é capaz de fazer.
“Ela acha que tá rica só por que ganhou vinte mil reais. Dá pra nada! Essa merreca vai acabar rapidinho”. Lia mandou essa e, para o meu desespero, desceu do ônibus ainda grudada no celular. Desceu e me privou do direito de saber a origem desse dinheiro. Ganhou no Bicho? Vendeu um rim de Letilson no Mercado Livre? Deu um golpe em alguém? Ganhou honestamente com o suor do trabalho? Jamais saberei.
Dorinha, se o destino quiser que este texto, de alguma maneira, chegue até você, não me leve a mal. Sou apenas um veículo da mensagem. Agora das duas, uma: ou você é mesmo uma malandra de marca maior e é odiada por meio Recife ou é uma pobre coitada injustamente perseguida pela família de Letilson. Abra o olho! Seu nome está na boca do povo, meu bem! Tome juízo, bote a mão na consciência e, mais do que qualquer coisa, acorde para cuspir, afinal de contas, vinte mil reais não faz de ninguém rico mesmo, não.
quarta-feira, 4 de novembro de 2015
All By Myself
Chove no Rio de Janeiro e aqui estou eu, no 565 (que já foi 465, que já foi 755) e no sempre escroto esgarrafamento da Freguesia. E pensar que eu quase peguei um táxi do Leblon até a minha casa... Por alguns minutos, achei que eu era vizinha de porta das Helenas do Manoel Carlos e que do Leblon até o subúrbio é um pulo. Que tola! Uma hora dessas, eu estaria encolhida no banco de trás de um táxi, chorando ao som de "All by myself" e tentando decidir qual dos meus bens (risos) eu teria que me desfazer pra pagar a corrida que, certamente, não sairia por menos de R$850.
segunda-feira, 2 de novembro de 2015
Samambaia chorona
"Tia, meus amigos da escola estão vindo aqui pra casa pra gente fazer um trabalho. Arruma esse cabelo, pelo amor de Deus."
Milena desesperada com a ideia de os amigos descobrirem que eu sou um mix de Valderrama com uma samambaia chorona quando acordo.
Manual da Mulher Solteira -Parte 3 (a saga final)
Escrevo, hoje, o último texto da minha parceria com a Editora Guarda-chuva, que gentilmente me convidou para ler, em primeira mão, o Manual da Mulher Solteira, o livro superbacana da Elizabeth Koosed.
Ouso dizer que a autora, uma escritora norte-americana muito sagaz, reuniu os dilemas, os conflitos, os questionamentos e tudo mais que nós mulheres, especialmente quando estamos às voltas com algum relacionamento amoroso, temos em comum. Eu, pelo menos, me vi retratada em vários trechos, do início ao fim do livro, e me dei conta do quão positivo tem sido o meu amadurecimento.
Lidar com a rejeição, com expectativas frustradas e com toda sorte de nãos que a gente recebe na vida tem sido bem mais fácil aos 34 anos. É claro que essas experiências são muito particulares e cada uma dita o seu ritmo, mas, no meu caso, sem dúvida, sofro muito menos agora do que aos 24, por exemplo. Hoje, até rio das furadas em que eu me meti ao longo dos anos.
No “Manual da Mulher Solteira ”, a autora fala muito da importância da autovalorização e do amor-próprio. Eu já me relacionei com caras que se achavam a última bolacha (ou seria biscoito?) do pacote, que adoravam falar quão admiráveis eram suas carreiras, suas vidas, seus projetos, mas que nunca tinham o mesmo interesse pela minha vida nem pelas minhas escolhas. Eles queriam apenas ter uma boa ouvinte, uma plateia atenciosa (ainda que formada por apenas uma espectadora), alguém que aplaudisse cada um de seus passos. Eles tinham tanta necessidade de se exaltar, de se autopromover, que eu concluí que o grande objetivo deles era me fazer acreditar quão desinteressante eu era. Foram dois relacionamentos nesse esquema aí. Curtos, obviamente. Uma hora eu cansei e resolvi pegar o caminho da roça porque, né? Não sou obrigada.
Homens que só falam de si mesmos são egomaníacos. (…) Você nunca virá em primeiro lugar, por mais que se dedique e contribua para o relacionamento. A não ser que você não se importe de ficar em segundo plano na vida de um homem, é melhor viver sem alguém assim.
Conheço mulheres que se anulam, que topam viver com esse tipo de homem. Acho triste, mas é uma escolha delas. Eu fujo disso. Gente que só fala e não me escuta, só me interessa quando eu estou num assento de um coletivo qualquer. Aí, sim, eu sou exclusivamente ouvinte. Nas outras relações, eu prefiro a troca, mesmo. Quando não rola, quando não há interesse mútuo, eu perco o barato. Fico completamente desanimada.
Quebrei a cara inúmeras vezes, me interessei por quem não me dava bola outras tantas e me vi também ser muito jogada na prateleira do “um dia, quando eu cismar, lembrarei de você novamente, docinho”, uma velha conhecida de 9 em cada 10 mulheres (com margem de erro para mais). Quantas e quantas vezes eu caí nos papos mais batidos, nos papos mais manjados e chorei mais do que Thiago Silva em jogos decisivos da Seleção quando me dei conta que tinha sido feita de boba mais uma vez… Sobrevivi a tudo isso e, de alguma maneira, acho que aprendi alguma coisa com cada experiência frustrada. Juro que não é conversa para boi dormir. Acho mesmo que quanto mais a gente se ferra, mais aprende. Comigo, pelo menos, tem sido assim. Já sou quase uma doutora no assunto e tenho dado muitas consultorias gratuitas por aí.
Mas nem tudo é tristeza no meu repertório amoroso. Tive encontros bem legais, mas que, por alguma razão, não foram adiante. Ou porque a distância atrapalhava (praticamente uma sina minha) ou porque não tinham que ser mesmo. No entanto, é bom dizer que por não viver atualmente uma história bonitinha, daquelas que as pessoas acompanham nas redes sociais feito novela, não significa que eu tenha me tornado uma mulher amarga, rancorosa nem ingrata, embora o Latino diga o contrário. Só acho, de verdade, que a minha felicidade não depende apenas disso. Sigo tentando, continuo tendo encontros legais e eles, eu juro, têm me bastado. Pelo menos por enquanto. Hoje, erro menos, rio mais e assim, tenho me tornado a mais bem resolvida mulher solteira de que se tem notícia.
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