Outro dia, a caminho do trabalho, passei por uma casa aqui, perto da minha, com uma plaquinha pendurada em que se lia “Bolos, tortas, salgados, Lídia”. Só isso. Uma plaquinha tão sucinta quanto um telegrama. Não tinha um telefone de contato, nada. Só as iguarias feitas ali e o nome da provável doceira/salgadeira no final.
Saquei o meu celular para fazer uma graça qualquer, no Snapchat, e comecei a filmar. Quando me dei conta, vi que Lídia estava sentadinha na varanda olhando para mim. Imediatamente baixei o celular e, constrangida, pedi o telefone dela para que eu, quem sabe um dia, encomende um doce. Feliz da vida, ela me disse o número.
Tenho para mim que Lídia passa todas as manhãs ali, sentada naquela varanda, à espera de um cliente que ainda não deu as caras. De repente surjo eu levando um pouco de esperança e a certeza de que valeu a pena ter acreditado no talento e investido no negócio próprio. Fiquei tão culpada por ter criado nela aquela expectativa, que achei adequado ligar algum dia para saber quanto é o cento da rabanada e fazer a minha encomenda de fim de ano.
Dias depois, passei novamente em frente àquela casa e conheci a Dona Jaçanã, mãe da Lídia e sua ajudante no preparo de bolos, tortas e salgados. Parei dois minutos ali para saber quem ela era e para sondá-la sobre os quitutes da Lídia. Era manhã de sábado e Dona Jaçanã estava apoiada no portão acompanhando o movimento da rua.
Descobri que “Jaçanã” significa “a que berra, grita”. Acho que a maior função de Dona Jaçanã é ficar ali, plantada no portão, mandando uns “vem, gente, vem que é bom à beça!” para atrair novos clientes para a filha.
Liguei ontem para a Lídia. Perguntei se ela fazia rabanadas, certa de que receberia uma resposta positiva. Mas, não. Lídia não faz rabanadas. Ela perguntou a que tipo de evento eu irei — rabanadas não sugerem alguma coisa?— e eu inventei uma confraternização de fim de ano do trabalho. Ela, então, sugeriu um bolo de frutas cristalizadas. Odeio frutas cristalizadas. Agradeci, disse que voltaríamos a nos falar mais para frente e desliguei. Não foi desta vez, Lídia. Não foi desta vez.
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