Há duas semanas, eu estive na Americanas e resolvi comprar aquele amarrado de 3 calcinhas por R$29,90 para usar no dia a dia. São umas calcinhas de quinta, quase descartáveis, daquelas que a gente compra só para jogar fora algumas velhas. Daquelas que a gente não se atreve a usar em, digamos, ocasiões especiais.
Assim que cheguei em casa, eu me dei conta de que uma delas, a branca do meio, tinha uns clichês de fim de ano escritos. Uma coisa bem cafona, mesmo. Fiquei pensando… Imagina se uma mulher compra um amarrado desses, erra, cata a branca e parte para o encontro com um cara de quem ela está muito a fim? Imaginou? Se eu fosse esta mulher, jamais me perdoaria e nunca mais teria coragem de olhar novamente para a cara do homem que, certamente, se surpreenderia ao me ver usando uma calcinha onde se lê a palavra “gratidão”.
Agora, na hipótese de essa mesma mulher sofrer um acidente na rua, finalmente faria algum sentido aquele papo que eu, ela e toda uma geração de meninas ouvimos de nossas mães. Qual papo? O de que não é aconselhável sair de casa usando uma calcinha velha, rasgada, furada sob o risco de passarmos vergonha na hora do socorro. Como se alguém reparasse no estado das peças íntimas de um acidentado... Até imaginei um diálogo:
“Rapaz, tirei uma mulher das ferragens de um carro lá em Brás de Pina que, olha… Tinha que ver o estado”.
“Dela? Do carro?”, questionaria o colega.
“Não, da calcinha mesmo. Que falta faz uma mãe, né?”
Mas um bombeiro surpreendido com um agradecimento silencioso desses ganharia o dia, não ganharia, não? Quer dizer, o cara se mata de trabalhar para ganhar um salário que não está à altura do seu empenho, mas, em compensação, tem seu esforço reconhecido. Um reconhecimento esquisito, eu sei, mas ainda assim, um reconhecimento. Aí, sim, a calcinha branca da gratidão teria uma razão de ser.
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