quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

A noite passada

É muito doida a maneira com que o nosso cérebro decide o que vai ficar registrado em algum canto a ponto de virar enredo de sonho. Por mais que haja a tentativa de induzi-lo a escolher o que a gente acredita ser capaz de render um sonho bom, ele mesmo se encarrega disso e rejeita qualquer tipo de influência. Comigo, pelo menos, é sempre em vão. Sonho com as coisas mais improváveis, mais prosaicas e mais sem importância que vi ou vivi no dia que antecede a noite de sono ou em alguma fase da minha existência.
Na noite passada, por exemplo, sonhei com a Morena Baccarin. Sonhei que éramos grandes amigas, unha e carne mesmo, e que passávamos uma tarde inteira lá em casa jogando conversa fora. Acordei tentando entender por que raios ela foi parar no meu sonho, já que não assisto “Homeland” há séculos e não tenho o hábito de procurar notícias de Morena por aí. Pensei, pensei e lembrei que, ontem, passei o olho numa matéria que dizia que Morena, grávida, tinha ido com o marido sei lá onde. Pronto, isso bastou. Não cliquei na matéria, li mais nada além disso, mas essa olhadela foi o suficiente para que o meu cérebro registrasse como algo interessante e decidisse que, pelo menos no meu sonho, eu e Morena seríamos melhores amigas. Lembro que a gravidez dela foi uma das pautas daquele nosso papo de comadres enquanto, paralelamente, eu tentava convencer um cara de que o filho que eu esperava era dele.
Além de não fazerem sentido algum, meus sonhos acontecem simultaneamente. Meu cérebro funciona como uma sala de switch com várias telinhas exibindo vários acontecimentos ao mesmo tempo. Na noite passada foi assim. Uma hora eu estava com Morena, em outra eu estava numa conversa tensa com o cara, depois já estava com Morena de novo. O cara, cuja fisionomia eu lembro até agora, provavelmente é alguém com quem eu cruzei, ontem, andando pela rua, ao entrar no ônibus, no elevador do trabalho ou na ida à farmácia. Vai saber… Não, não foi flerte nem nada do tipo. Foi só o meu cérebro que decidiu que aquele rosto voltaria a aparecer para mim em algum momento.
Sonho é uma coisa muito doida, mesmo. É imprevisível e eu não tenho o que fazer para mudar isso. Até me empenho em segurar uma lembrança boa e levá-la aos meus sonhos, mas nunca consigo. Do jeito que as coisas são, é capaz de amanhã ou depois eu chutar um cajá na rua, sonhar que vendo compotas de cajá-manga numa barraquinha lá na Praça XV e que o Flávio Migliaccio é o meu cliente mais fiel.

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