Sentei no banco do ponto de ônibus, tirei meu celular da bolsa, li a mensagem da minha irmã, no WhatsApp, e o guardei novamente na bolsa. A mulher que estava sentada ao meu lado me cutucou e perguntou se eu poderia emprestá-lo pra que ela pudesse avisar ao marido que estava indo ali, no Méier, pegar um exame. “Esqueci o meu celular em cima da mesa, menina!”, disse. Refleti por alguns segundos e pedi o número dele para que eu mesma ligasse e, quando ele atendesse, pudesse passar para ela. A mulher não gostou muito e imediatamente desmanchou o semisorriso que tinha no rosto. Queria ela mesma fazer a ligação. Ela ainda tentou me convencer dizendo que ligaria a cobrar mesmo, como se esse fosse o motivo da minha preocupação. Eu ainda pensei em dizer que estava sem sinal, mas o 3G da Claro nunca apareceu tão vivo (com trocadilho) e tão brilhante na tela do meu aparelho.
Liguei. O cara não atendeu e eu torci pra que o meu ônibus aparecesse logo. Obviamente ele não apareceu e o homem retornou a ligação. Com o coração na mão, entreguei o celular para ela, tal qual uma mãe entrega o filho para o homem do transporte escolar no primeiro dia de aula na escolinha nova. Malandra que sou, não desgrudei os olhos dela enquanto falava com Mauro, o marido. Ela fazia uns muxoxinhos, nitidamente incomodada com o meu olhar insistente. Eu já estava pronta para correr mais do que Forrest Gump e Usain Bolt juntos se por acaso passasse por sua cabeça tentar me sacanear.
Ela terminou a ligação, me devolveu o celular sem agradecer e entrou no primeiro ônibus que parou no ponto. Exagerei? Talvez, mas não posso me dar o luxo de ter um coração tão puro e livre de qualquer maldade a ponto de confiar nas boas intenções de desconhecidos na rua. Quer mais um motivo? Eu ainda estou pagando o celular, um caríssimo iPhone 6, em suaves e intermináveis 10 prestações.
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