quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

A calcinha branca da gratidão


Há duas semanas, eu estive na Americanas e resolvi comprar aquele amarrado de 3 calcinhas por R$29,90 para usar no dia a dia. São umas calcinhas de quinta, quase descartáveis, daquelas que a gente compra só para jogar fora algumas velhas. Daquelas que a gente não se atreve a usar em, digamos, ocasiões especiais.

Assim que cheguei em casa, eu me dei conta de que uma delas, a branca do meio, tinha uns clichês de fim de ano escritos. Uma coisa bem cafona, mesmo. Fiquei pensando… Imagina se uma mulher compra um amarrado desses, erra, cata a branca e parte para o encontro com um cara de quem ela está muito a fim? Imaginou? Se eu fosse esta mulher, jamais me perdoaria e nunca mais teria coragem de olhar novamente para a cara do homem que, certamente, se surpreenderia ao me ver usando uma calcinha onde se lê a palavra “gratidão”.
Agora, na hipótese de essa mesma mulher sofrer um acidente na rua, finalmente faria algum sentido aquele papo que eu, ela e toda uma geração de meninas ouvimos de nossas mães. Qual papo? O de que não é aconselhável sair de casa usando uma calcinha velha, rasgada, furada sob o risco de passarmos vergonha na hora do socorro. Como se alguém reparasse no estado das peças íntimas de um acidentado... Até imaginei um diálogo:
“Rapaz, tirei uma mulher das ferragens de um carro lá em Brás de Pina que, olha… Tinha que ver o estado”.
“Dela? Do carro?”, questionaria o colega.
“Não, da calcinha mesmo. Que falta faz uma mãe, né?”
Mas um bombeiro surpreendido com um agradecimento silencioso desses ganharia o dia, não ganharia, não? Quer dizer, o cara se mata de trabalhar para ganhar um salário que não está à altura do seu empenho, mas, em compensação, tem seu esforço reconhecido. Um reconhecimento esquisito, eu sei, mas ainda assim, um reconhecimento. Aí, sim, a calcinha branca da gratidão teria uma razão de ser.

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Ponto de ônibus


Sentei no banco do ponto de ônibus, tirei meu celular da bolsa, li a mensagem da minha irmã, no WhatsApp, e o guardei novamente na bolsa. A mulher que estava sentada ao meu lado me cutucou e perguntou se eu poderia emprestá-lo pra que ela pudesse avisar ao marido que estava indo ali, no Méier, pegar um exame. “Esqueci o meu celular em cima da mesa, menina!”, disse. Refleti por alguns segundos e pedi o número dele para que eu mesma ligasse e, quando ele atendesse, pudesse passar para ela. A mulher não gostou muito e imediatamente desmanchou o semisorriso que tinha no rosto. Queria ela mesma fazer a ligação. Ela ainda tentou me convencer dizendo que ligaria a cobrar mesmo, como se esse fosse o motivo da minha preocupação. Eu ainda pensei em dizer que estava sem sinal, mas o 3G da Claro nunca apareceu tão vivo (com trocadilho) e tão brilhante na tela do meu aparelho.

Liguei. O cara não atendeu e eu torci pra que o meu ônibus aparecesse logo. Obviamente ele não apareceu e o homem retornou a ligação. Com o coração na mão, entreguei o celular para ela, tal qual uma mãe entrega o filho para o homem do transporte escolar no primeiro dia de aula na escolinha nova. Malandra que sou, não desgrudei os olhos dela enquanto falava com Mauro, o marido. Ela fazia uns muxoxinhos, nitidamente incomodada com o meu olhar insistente. Eu já estava pronta para correr mais do que Forrest Gump e Usain Bolt juntos se por acaso passasse por sua cabeça tentar me sacanear.
Ela terminou a ligação, me devolveu o celular sem agradecer e entrou no primeiro ônibus que parou no ponto. Exagerei? Talvez, mas não posso me dar o luxo de ter um coração tão puro e livre de qualquer maldade a ponto de confiar nas boas intenções de desconhecidos na rua. Quer mais um motivo? Eu ainda estou pagando o celular, um caríssimo iPhone 6, em suaves e intermináveis 10 prestações.

domingo, 20 de dezembro de 2015

Psysique du role


Hoje cedo, na ida à farmácia, encontrei uma vizinha, uma senhorinha fofinha que é sempre muito carinhosa comigo. Ela virou para mim e disse: “você é tão alta… Nunca pensou em ser… em ser…”. A palavra lhe faltou e eu, mentalmente, comecei a soprar para ela “modelo! Fala que ela devia ser modelo!”, mesmo que isso não faça o menor sentido e eu saiba que nunca tivephysique du role para isso. Eu só queria dar uma inflada no meu ego com uma mentirinha gostosa de ouvir.

Mas, não. Ela completou com “… você devia ser jogadora de basquete, vôlei, essas coisas”. Respondi que nunca cogitei, ela insistiu, disse que eu deveria tentar agora e eu falei que mesmo se quisesse, não rolaria porque passei da idade. Nos despedimos, ela foi para um lado, eu fui para o outro e, na minha caminhada, lembrei de uma teoria que tenho desde sempre: você, garota, que é magra, alta e que ouve muito por aí que deveria seguir a carreira de modelo, sem dúvida, você está ali, naquela escala que vai da exótica/estranha à bela/deslumbrante. Já eu… Bom, não foi por falta de apoio que eu não virei a sucessora da Márcia Fu.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Chandler and Monica!

FB

Ok, eu sei que não tenho mais idade pra comemorar o fato de um casal da ficção estar namorando na vida real, mas, hoje, excepcionalmente hoje, eu me permito ter 13 anos. Eu me permito, inclusive, conjugar o verbo "shippar".
Mas qual casal, Rê? Ih, menina, não tá sabendo, não? Corre o boato de que Matthew Perry e Courteney Cox estão tendo um lance! MY EYES! MY EYES!

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Quem gostaria?


Um dos meus primeiros empregos foi como telefonista numa concessionária da Mitsubishi. Certa vez, aconteceu isso aqui, ó:
EU: Mit Rio, boa tarde!
MOÇA: Boa tarde!
EU: Pois não, senhora.
MOÇA: Eu poderia falar com a Cláudia?
EU: Quem gostaria?
MOÇA: Cláudia.
EU: Quem gostaria?
MOÇA: Cláudia.
EU: Quem gostaria?
MOÇA: Cláudia!
EU: Mas quem gostaria?!
MOÇA: A Cláudia! Meu nome também é Cláudia!
Depois de muito tempo, caiu a ficha de que há, sim, mais de uma Cláudia no mundo. E não, esse não foi o único mico que eu paguei lá. Outro dia, quando eu tiver coragem, contarei o outro.

domingo, 6 de dezembro de 2015

Edmar

Há anos – e eu nem sequer sei precisar exatamente desde quando –, recebo em meu celular ligações de pessoas querendo falar com um cara chamado Edmar. É uma coisa chata, insistente e que às vezes me tira do sério.
Eu já lidei com essa inconveniência de maneiras diferentes. Já fui, por exemplo, a paciente do tipo que dizia, com sorriso na voz, “ih, este número não é dele, não… Você deve ter discado errado”. Para você ter uma ideia do quão antigo é este meu pequeno tormento, repare que ele é da época em que a gente ainda usava o verbo “discar” para se referir a chamadas telefônicas.
Depois de um tempo, já cansada das ligações que não paravam de chegar, passei a atender com um seco “é engano”. Esperava a pessoa entender que não ia achar Edmar algum ali, naquele número, e só então eu desligava. Educada. Já bem de saco cheio, mas ainda educada.
Hoje, uso o smartphone muito mais para todas as outras funções do que para fazer chamadas. Logo eu que, na minha adolescência, levava broncas dos meus pais por que vivia pendurada no telefone e fazia as contas aumentarem suficientemente para irritá-los. Hoje, quanto menos telefone, melhor. Uso mais para serviços que não se resolvem pela internet, para marcar consultas médicas e para falar com pessoas mais velhas que preferem preservar antigos hábitos e meios de comunicação. Só. Morro de preguiça quando o meu celular toca, especialmente quando descubro que é alguém a fim de falar com o Edmar.
Antigamente, quando o telefone de casa tocava, eu corria para atender. Hoje em dia, torço para não ser alguém querendo falar comigo. Sim, eu me tornei essa pessoa besta sem motivo algum. Acho que esgotei a minha cota de paciência para falar ao telefone lá nos anos 90. E telefone na madrugada, então? Tenho pavor. É sempre para trazer desgraça, já reparou? Certa vez, todos dormiam aqui em casa, menos eu. Já tinha passado da meia-noite quando o telefone tocou. Tocou uma, duas, três, quatro vezes e somente na quinta eu tomei coragem para atender. Já tinha me conformado com a ideia de ser a mensageira da notícia ruim às pessoas da minha casa. Graças a Deus não era. Era só o meu tio querendo saber se poderia vir aqui para deixar, no nosso freezer, a costelinha de porco que ele tinha comprado para o churrasco da minha avó, que aconteceria no dia seguinte.
Voltando ao Edmar. Quanto mais ligações de pessoas à procura dele eu recebo, mais mal educada eu fico. Às vezes, altero o tom de voz ao dizer “não tem Edmar aqui, não!”. Outras, digo apenas “não é o Edmar” e desligo na cara da pessoa, sem pena, antes mesmo de ouvir um pedido de desculpas ou um insistente “mas esse número não é o tal, tal, tal, tal e tal?”. Tudo depende do meu estado de espírito.
Certa vez, uma mulher ligou, ouviu a minha resposta padrão e, não satisfeita, retornou outras quatro ou cinco vezes, certa de que uma hora, por pura sorte, conseguiria falar com o cara. Na última tentativa, a minha resposta começou com “querida, olha só…”. Nunca mais ela ligou.
Passei uma longa temporada sem receber ligações de gente atrás desse homem. Nem lembrava mais disso. Ontem à tarde, porém, o celular tocou, eu atendi e… “Edmar?”. Revirei os olhos e minha voz feminina deu a dica. Edmar não estava nem estaria em momento algum. A pessoa se desculpou, eu respondi com um desanimado “não foi nada” e a vida seguiu.
Quem é Edmar? Do que vive? Onde vive? Por que tanta gente o procura? Por que ele e seus amigos não se renderam ao WhatsApp? Estará Edmar com o nome sujo na praça? Ou é podre de rico, do tipo que as pessoas recorrem por se acharem merecedoras de alguma ajudinha? Creio que eu jamais saberei a verdade.
Um dia, quando me der na telha, direi que o Edmar deu um pulo no mercado, esqueceu o celular em casa e perguntarei se a pessoa quer deixar recado. Anotarei nomes, telefones e jogarei tudo no Facebook, na esperança de que os recados cheguem ao Edmar certo e de que eu tenha um pouquinho de sossego.
O Edmar? No momento, ele não se encontra. Quer deixar recado?

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Ô, Ingrid!


Ô, Ingrid!
Ingrid!
Ô, In-gri-di!
Ingrid!
Caraca, cadê essa garota?!
Ingrid!
Ô, Ingrid!
Ingrid!
Ô, In-gri-di!
Essa garota vai ver só uma coisa...
Ingrid!
Ô, Ingrid!
Ô, In-gri-di!
5 minutos depois, a Ingrid, enfim, apareceu. Não é fácil morar ao lado da Ingrid, da mãe da Ingrid, do pai da Ingrid e dos irmãos da Ingrid, não, malandro!


quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

A noite passada

É muito doida a maneira com que o nosso cérebro decide o que vai ficar registrado em algum canto a ponto de virar enredo de sonho. Por mais que haja a tentativa de induzi-lo a escolher o que a gente acredita ser capaz de render um sonho bom, ele mesmo se encarrega disso e rejeita qualquer tipo de influência. Comigo, pelo menos, é sempre em vão. Sonho com as coisas mais improváveis, mais prosaicas e mais sem importância que vi ou vivi no dia que antecede a noite de sono ou em alguma fase da minha existência.
Na noite passada, por exemplo, sonhei com a Morena Baccarin. Sonhei que éramos grandes amigas, unha e carne mesmo, e que passávamos uma tarde inteira lá em casa jogando conversa fora. Acordei tentando entender por que raios ela foi parar no meu sonho, já que não assisto “Homeland” há séculos e não tenho o hábito de procurar notícias de Morena por aí. Pensei, pensei e lembrei que, ontem, passei o olho numa matéria que dizia que Morena, grávida, tinha ido com o marido sei lá onde. Pronto, isso bastou. Não cliquei na matéria, li mais nada além disso, mas essa olhadela foi o suficiente para que o meu cérebro registrasse como algo interessante e decidisse que, pelo menos no meu sonho, eu e Morena seríamos melhores amigas. Lembro que a gravidez dela foi uma das pautas daquele nosso papo de comadres enquanto, paralelamente, eu tentava convencer um cara de que o filho que eu esperava era dele.
Além de não fazerem sentido algum, meus sonhos acontecem simultaneamente. Meu cérebro funciona como uma sala de switch com várias telinhas exibindo vários acontecimentos ao mesmo tempo. Na noite passada foi assim. Uma hora eu estava com Morena, em outra eu estava numa conversa tensa com o cara, depois já estava com Morena de novo. O cara, cuja fisionomia eu lembro até agora, provavelmente é alguém com quem eu cruzei, ontem, andando pela rua, ao entrar no ônibus, no elevador do trabalho ou na ida à farmácia. Vai saber… Não, não foi flerte nem nada do tipo. Foi só o meu cérebro que decidiu que aquele rosto voltaria a aparecer para mim em algum momento.
Sonho é uma coisa muito doida, mesmo. É imprevisível e eu não tenho o que fazer para mudar isso. Até me empenho em segurar uma lembrança boa e levá-la aos meus sonhos, mas nunca consigo. Do jeito que as coisas são, é capaz de amanhã ou depois eu chutar um cajá na rua, sonhar que vendo compotas de cajá-manga numa barraquinha lá na Praça XV e que o Flávio Migliaccio é o meu cliente mais fiel.

sábado, 28 de novembro de 2015

It`s me...


Você entra no Whatsapp. Desliza o dedo pelos contatos e vê que um deles, um que muito lhe interessa e com quem você não conversa há tempos, está com uma foto nova que parece boa aos seus olhos. Você abre a conversa e, curiosa, clica na foto. Mas aí o dedo corre para a esquerda e, pimba!, acidentalmente liga para o tal contato. Desespero. Pânico. Você corre para cancelar a ligação, mas é tarde demais. Por mais que você queira se enganar, no fundo, no fundo sabe que o cara já ouviu o toque. Não tem como desfazer a ação, voltar no tempo ou acender uma vela para o santo protetor dos fazedores de merdinhas. O aplicativo, impiedoso, já te entregou, não tem jeito. Mas aí o contato escreve perguntando se você ligou para ele. Sem ter o que dizer, você dá a resposta mais cretina que poderia dar: “liguei?! Pensei que era você quem estava me ligando…”. Você sustenta a mentira, ambos riem, dão continuidade ao papo e você, secretamente, agradece por ter vacilado o dedo ao clicar na foto de perfil. Não que isso tenha acontecido comigo. Jamais! O fato é que ninguém está livre disso. Nem eu.

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

A barra de ferro


Às vezes, quando estou no ônibus, no trem ou no metrô, eu me agarro a uma daquelas barras de segurança e sinto a minha mão muito confortavelmente repousada ali. Às vezes, demoro para perceber que o motivo de tamanho conforto é a mão de um desconhecido qualquer que, quentinha, acolhe a minha e me livra do contato com a sempre gelada barra de ferro. Sem querer, forço intimidade com um estranho.
Mão na mão, pele na pele e doses e mais doses de constrangimento. Sem graça com aquela situação e sem saber direito o que fazer para se livrar do peso da minha mão folgada e espaçosa, o desconhecido vai retirando a sua, de mansinho, para não ser indelicado. Tudo para que eu não perceba. Só aí que eu me dou conta.
É como fim de namoro em que a parte desinteressada resolve abandonar o barco, mas não o faz de uma hora pra outra, de maneira abrupta, por não querer magoar a parte ainda muito apegada e emocionalmente instável.

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Plástico-bolha

Há uns anos, eu e uma amiga estávamos sem grana para comprar um presente maneiro para um amigo em comum. O que nós fizemos? Unimos forças e fizemos o nosso presente. Compramos uns dois ou três metros de plástico-bolha, fomos nas Lojas Americanas e compramos 4 CDs (daqueles de R$9,90, sabe?) de clássicos dos anos 60, 70, 80 e 90 e fizemos 4 apostas na Mega-Sena. Incluímos um termo, que foi assinado, em que ele cedia 30% do prêmio para nós duas, caso ganhasse. Fizemos um embrulhão e lá fomos nós para a comemoração. Infelizmente, ele não ganhou na Mega-Sena, mas riu um bocado. E nós passamos a noite toda cantando, bebendo, rindo e estourando o plástico-bolha.

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Encomenda de fim de ano


Outro dia, a caminho do trabalho, passei por uma casa aqui, perto da minha, com uma plaquinha pendurada em que se lia “Bolos, tortas, salgados, Lídia”. Só isso. Uma plaquinha tão sucinta quanto um telegrama. Não tinha um telefone de contato, nada. Só as iguarias feitas ali e o nome da provável doceira/salgadeira no final.
Saquei o meu celular para fazer uma graça qualquer, no Snapchat, e comecei a filmar. Quando me dei conta, vi que Lídia estava sentadinha na varanda olhando para mim. Imediatamente baixei o celular e, constrangida, pedi o telefone dela para que eu, quem sabe um dia, encomende um doce. Feliz da vida, ela me disse o número.
Tenho para mim que Lídia passa todas as manhãs ali, sentada naquela varanda, à espera de um cliente que ainda não deu as caras. De repente surjo eu levando um pouco de esperança e a certeza de que valeu a pena ter acreditado no talento e investido no negócio próprio. Fiquei tão culpada por ter criado nela aquela expectativa, que achei adequado ligar algum dia para saber quanto é o cento da rabanada e fazer a minha encomenda de fim de ano.
Dias depois, passei novamente em frente àquela casa e conheci a Dona Jaçanã, mãe da Lídia e sua ajudante no preparo de bolos, tortas e salgados. Parei dois minutos ali para saber quem ela era e para sondá-la sobre os quitutes da Lídia. Era manhã de sábado e Dona Jaçanã estava apoiada no portão acompanhando o movimento da rua.
Descobri que “Jaçanã” significa “a que berra, grita”. Acho que a maior função de Dona Jaçanã é ficar ali, plantada no portão, mandando uns “vem, gente, vem que é bom à beça!” para atrair novos clientes para a filha.
Liguei ontem para a Lídia. Perguntei se ela fazia rabanadas, certa de que receberia uma resposta positiva. Mas, não. Lídia não faz rabanadas. Ela perguntou a que tipo de evento eu irei — rabanadas não sugerem alguma coisa?— e eu inventei uma confraternização de fim de ano do trabalho. Ela, então, sugeriu um bolo de frutas cristalizadas. Odeio frutas cristalizadas. Agradeci, disse que voltaríamos a nos falar mais para frente e desliguei. Não foi desta vez, Lídia. Não foi desta vez.

domingo, 15 de novembro de 2015

O lança-confetes


Em março, no aniversário do meu afilhado, coube a mim a missão de soltar o tal do lança-confetes, uma espécie de bastão que joga no ar um monte daqueles papeizinhos prateados que “colam na pele feito tatuagem” (isso já deu música? Pois deveria), especialmente quando a gente mais transpira.
Pois bem. Na hora do parabéns, pediram que eu me posicionasse numa ponta da mesa do bolo e um rapaz, amigo deles, na outra. A ideia era ativar os bastões de ambos os lados para dar aquele lindo efeito cascata no meio, tal qual Cafu se declarando para a Regina na final da Copa do Mundo de 2002. Thiago, o aniversariante, era o meu Cafu.
Só que ativar aquele bastão não é tão simples assim. Pelo menos não para mim. O rapaz que estava na outra ponta o fez sem dificuldade, porém os confetes erraram o caminho e ao invés de caírem no centro, no ponto onde eles encontrariam os meus, vieram diretinho para a minha cabeça.
O repertório de clássicos de aniversário estava acabando, já tínhamos chegado ao “Derrama, Senhor”, a canção derradeira, e nada de eu conseguir ativar o meu lança-confetes. O que eu fiz? Mais que depressa, entreguei o bastão ao meu competente adversário que, em segundos, deu liberdade aos papeizinhos. E o que foi que aconteceu? Isso mesmo, a história se repetiu. Tomei outro banho de confetes. Os convidados riram da minha cara e eu passei uns 3 dias tirando aquela merda do cabelo.
Para me zoar, há quem me compare à Globeleza. Naquele dia, essa comparação fez mais sentido do que nunca.

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Assento preferencial


O ônibus aparece ao longe e o segurança grita: "quem vai no Penha entra nesta fila aqui!". Confusão na fila. As pessoas começam a reclamar do empurra-empurra. O ônibus se aproxima. Expectativa para a abertura das portas. Tensão na fila, muita tensão. As portas se abrem. Correria, muita correria. Corro também para não ser pisoteada e não ficar para trás. Os mais ágeis conseguem se sentar e comemoram suas pequenas vitórias. Até que um rapaz, desolado de dar dó, exclama aos berros: "caralho, sentei no preferencial, puta que pariu!".
Tô rindo até agora.

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

A passageira ao lado


Os personagens mais curiosos e mais ricos estão a bordo de algum transporte coletivo. Ouve-se de tudo durante uma viagem, por menor que ela seja. Basta ter uma audição bem apurada, a habilidade de identificar uma boa história e se deixar levar pelo que as pessoas contam por aí.
Há tempos, isso é o que eu mais gosto de fazer nas minhas idas e vindas do trabalho. Ouvir histórias de desconhecidos no trem, no metrô, nos ônibus comuns que ainda circulam e no BRT me distrai mais do que qualquer combinado de 5 amendoins (3 com casca e 2 sem) por R$2 que os vendedores ambulantes anunciam, a plenos pulmões, como o mais vantajoso e mais incrível passatempo de viagem. Profissionalizei o negócio de tal maneira, que ali mesmo tomo nota das frases mais impactantes para escrever depois.
Melhor do que pescar uma conversa aleatória, é ser selecionada para ouvir a história de alguém. Amo quando um bom contador me identifica como uma ouvinte atenciosa e, de uma estação à outra, fala para mim, só para mim, o que tem vontade. Mas isso é raro. Geralmente reconheço uma boa história enquanto ela é contada a outro passageiro (normalmente um amigo do contador) ou relatada ao celular, como é o caso da da Dorinha, que eu narrarei aqui, hoje.
Entrei no BRT e sentei ao lado de uma mulher que, muito indignada, conversava ao celular num tom elevado demais para aquela hora da manhã. Aquilo logo chamou a minha atenção, mas, embora pareça, não foi uma escolha minha sentar ali. Foi sorte mesmo. Aquele foi o único assento que restou. Qualquer passageiro que prefira aproveitar os 40 minutos que separam Madureira da Barra para tirar um cochilo, teria odiado aquilo. Eu não. Eu gosto mesmo é dessa gente que fala alto como se estivesse na sala de casa ou muito à vontade deitada num divã. Lá atrás, na minha infância, muito antes de eu optar por Comunicação, cogitei cursar Psicologia. Talvez isso explique alguma coisa.
Não, eu não sentei ao lado da Dorinha. Sentei ao lado de alguém que descia a lenha nela. Pelo que eu entendi, Dorinha não é fácil. Dorinha não é flor que se cheire. Dorinha é alguém bem difícil de lidar. A passageira ao lado, que eu chamarei de Lia, dizia barbaridades a respeito dela pelo celular. Disse, por exemplo, que Dorinha é uma mulher despeitada, nariz em pé e que não assume seus erros. Como não se agarrar a uma história que já de início se apresenta assim para mim?
Não demorou muito para eu descobrir que Lia conversava com a mãe – que eu chamarei aqui de Dona Fulana –, que mora em Recife e sofre na mão de Dorinha. “Era pra senhora ter uma nora abençoada, mamãe!”, disse Lia muito inconformada. Dorinha é tão mau-caráter, que teve a capacidade de falar mal da Leonora, que tanto a ajudou, para Letilson. Leonora é irmã de Lia e de Letilson, o marido da vilã da história.
Letilson me pareceu meio bunda-mole. Dorinha faz dele gato e sapato, o sacaneia de tudo quanto é jeito, mas o homem não se mexe. Prefere não se meter em confusão, mesmo que para isso tenha que ver a própria mãe cortar um dobrado na mão daquela nora má. Dorinha usou e abusou do bom coração de Dona Fulana e de Leonora, deitou na sopa enquanto pôde e hoje é só ingratidão. Dorinha é uma mulher ruim.
“Quando Leonora vier pra cá, aí é que eu quero ver!”. Lia disse também que a irmã tem uma luta danada com a filha Leandra, uma garota-problema que só dá dor de cabeça, e que Letilson nem a procura para saber se precisa de ajuda. Ele vive em função da mulher. Não sei se acho mais adequado dizer que Letilson só tem olhos para Dorinha ou que está cego de amor.
“Quem vai acudir a senhora aí?”, disse Lia preocupada com a mãe que, com a vinda definitiva de Leonora para o Rio, dividirá o quintal apenas com a sonsa da Dorinha e seu marido pau-mandado. “Ela não levantou ainda, não é?”, quis saber a minha colega de viagem. Acomodada, abusada, dissimulada e manipuladora profissional. Um psicólogo do Casos de Família descreveria a tal Dorinha mais ou menos assim.
Pelo que a Lia conversou com a Dona Fulana, Dorinha não sabe o que quer da vida, mas sabe muito bem como aproveitar o tempo livre que tem: pondo um contra o outro. Aquela ali adora um disse me disse, adora uma intriga. Foi, inclusive, o que ela tentou fazer ao falar absurdos da sogra para a Eliane, o que fez com que a amizade delas estremecesse. Por sorte, o mal-entendido foi esclarecido, Dona Fulana e Eliane voltaram às boas e eu, lamentavelmente, fiquei sem saber, em detalhes, a origem e o desfecho desse bafafá.
“O problema tá nela, mamãe, ela tá carregada, é uma derrotada”, disse Lia que lembrou também quão mal-agradecida é a cunhada, que sequer reconhece tudo o que já fizeram por ela. “Não fosse a gente, ela estaria presa até hoje”, completou. O que Dorinha deve ter aprontado de tão grave para ter ido parar na cadeia? Matou alguém? Roubou alguém? Desacatou alguma autoridade? Tudo é possível quando se trata de Dorinha. Só não entendi até agora o que ela fez para merecer a ajuda dos parentes de Letilson. Com esse histórico desavergonhado de maldades, eu já teria largado de mão há muito tempo! Seriam elas pessoas muito evoluídas que passam por cima do orgulho e estendem a mão a quem precisa, seja lá quem for? Vai saber…
Todo mundo tem um pé atrás com a Dorinha. “Todo mundo fala mal dela, até na frente dela”, disse. Dinalva e Ana Gláucia, que pelo pouco que eu ouvi são uma espécie de irmãs cajazeiras local, são duas dessas pessoas. Elas sabem muito bem do que a Dorinha é capaz. Segundo elas, a moça “tem o coração sujo”. As duas conhecem o passado de Dorinha de tal modo, que se resolvessem botar a boca no trombone, acabariam com a raça dela. Pelo menos foi isso o que a Lia garantiu para a Dona Fulana. Tenho para mim que Dinalva e Ana Gláucia querem mais é ver o circo pegando fogo.
Uma hora lá, a Lia se calou. Parecia ouvir o desabafo de Dona Fulana. Pouco depois, disse: “Deixa essa peste pra lá! Dá desprezo!” e voltou a descer o malho em Letilson que, cá entre nós, só pode ter o rabo preso com alguma coisa para aguentar calado tudo o que a mulher apronta.
Dona Nevinha, que eu não faço a menor ideia de quem seja exatamente nessa história toda, é a única pessoa a jogar no time de Dorinha, é quem a protege de alguma maneira. Só sei que elas duas são assim, ó, unha e carne. A malandra mulher de Letilson passa a tarde inteira na casa dela fazendo sabe lá Deus o quê. Dona Nevinha pode parecer inofensiva com esse nome fofinho, mas não me engana. Acho que elas são cúmplices e, mais cedo ou mais tarde, vão dar um golpe nessa família e sumir no mundo. Se bobear, Letilson está envolvido nesse plano e vai meter o pé também. Lia, Leonora e Dona Fulana que fiquem espertas.
Lia está longe, mas ajuda a mãe como pode. Ela se comprometeu a mandar mais dinheiro quando acabar de pagar o carro e garantiu que Leonora também vai chegar junto assim que puder. Elas querem mandar uma menina lá na casa de Dona Fulana para fazer o grosso, uma faxina geral de tempos em tempos, já que não podem contar com o irmão, muito menos com a mulher dele. Dorinha bem que poderia arregaçar as mangas e, vez ou outra, passar uma vassoura pela casa da sogra, mas todos nós já sabemos que esse não é o tipo de gentileza que ela é capaz de fazer.
“Ela acha que tá rica só por que ganhou vinte mil reais. Dá pra nada! Essa merreca vai acabar rapidinho”. Lia mandou essa e, para o meu desespero, desceu do ônibus ainda grudada no celular. Desceu e me privou do direito de saber a origem desse dinheiro. Ganhou no Bicho? Vendeu um rim de Letilson no Mercado Livre? Deu um golpe em alguém? Ganhou honestamente com o suor do trabalho? Jamais saberei.
Dorinha, se o destino quiser que este texto, de alguma maneira, chegue até você, não me leve a mal. Sou apenas um veículo da mensagem. Agora das duas, uma: ou você é mesmo uma malandra de marca maior e é odiada por meio Recife ou é uma pobre coitada injustamente perseguida pela família de Letilson. Abra o olho! Seu nome está na boca do povo, meu bem! Tome juízo, bote a mão na consciência e, mais do que qualquer coisa, acorde para cuspir, afinal de contas, vinte mil reais não faz de ninguém rico mesmo, não.

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

All By Myself


Chove no Rio de Janeiro e aqui estou eu, no 565 (que já foi 465, que já foi 755) e no sempre escroto esgarrafamento da Freguesia. E pensar que eu quase peguei um táxi do Leblon até a minha casa... Por alguns minutos, achei que eu era vizinha de porta das Helenas do Manoel Carlos e que do Leblon até o subúrbio é um pulo. Que tola! Uma hora dessas, eu estaria encolhida no banco de trás de um táxi, chorando ao som de "All by myself" e tentando decidir qual dos meus bens (risos) eu teria que me desfazer pra pagar a corrida que, certamente, não sairia por menos de R$850.

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Samambaia chorona


"Tia, meus amigos da escola estão vindo aqui pra casa pra gente fazer um trabalho. Arruma esse cabelo, pelo amor de Deus."
Milena desesperada com a ideia de os amigos descobrirem que eu sou um mix de Valderrama com uma samambaia chorona quando acordo.

Manual da Mulher Solteira -Parte 3 (a saga final)

Escrevo, hoje, o último texto da minha parceria com a Editora Guarda-chuva, que gentilmente me convidou para ler, em primeira mão, o Manual da Mulher Solteira, o livro superbacana da Elizabeth Koosed.
Ouso dizer que a autora, uma escritora norte-americana muito sagaz, reuniu os dilemas, os conflitos, os questionamentos e tudo mais que nós mulheres, especialmente quando estamos às voltas com algum relacionamento amoroso, temos em comum. Eu, pelo menos, me vi retratada em vários trechos, do início ao fim do livro, e me dei conta do quão positivo tem sido o meu amadurecimento.
Lidar com a rejeição, com expectativas frustradas e com toda sorte de nãos que a gente recebe na vida tem sido bem mais fácil aos 34 anos. É claro que essas experiências são muito particulares e cada uma dita o seu ritmo, mas, no meu caso, sem dúvida, sofro muito menos agora do que aos 24, por exemplo. Hoje, até rio das furadas em que eu me meti ao longo dos anos.
No “Manual da Mulher Solteira ”, a autora fala muito da importância da autovalorização e do amor-próprio. Eu já me relacionei com caras que se achavam a última bolacha (ou seria biscoito?) do pacote, que adoravam falar quão admiráveis eram suas carreiras, suas vidas, seus projetos, mas que nunca tinham o mesmo interesse pela minha vida nem pelas minhas escolhas. Eles queriam apenas ter uma boa ouvinte, uma plateia atenciosa (ainda que formada por apenas uma espectadora), alguém que aplaudisse cada um de seus passos. Eles tinham tanta necessidade de se exaltar, de se autopromover, que eu concluí que o grande objetivo deles era me fazer acreditar quão desinteressante eu era. Foram dois relacionamentos nesse esquema aí. Curtos, obviamente. Uma hora eu cansei e resolvi pegar o caminho da roça porque, né? Não sou obrigada.
Homens que só falam de si mesmos são egomaníacos. (…) Você nunca virá em primeiro lugar, por mais que se dedique e contribua para o relacionamento. A não ser que você não se importe de ficar em segundo plano na vida de um homem, é melhor viver sem alguém assim.
Conheço mulheres que se anulam, que topam viver com esse tipo de homem. Acho triste, mas é uma escolha delas. Eu fujo disso. Gente que só fala e não me escuta, só me interessa quando eu estou num assento de um coletivo qualquer. Aí, sim, eu sou exclusivamente ouvinte. Nas outras relações, eu prefiro a troca, mesmo. Quando não rola, quando não há interesse mútuo, eu perco o barato. Fico completamente desanimada.
Quebrei a cara inúmeras vezes, me interessei por quem não me dava bola outras tantas e me vi também ser muito jogada na prateleira do “um dia, quando eu cismar, lembrarei de você novamente, docinho”, uma velha conhecida de 9 em cada 10 mulheres (com margem de erro para mais). Quantas e quantas vezes eu caí nos papos mais batidos, nos papos mais manjados e chorei mais do que Thiago Silva em jogos decisivos da Seleção quando me dei conta que tinha sido feita de boba mais uma vez… Sobrevivi a tudo isso e, de alguma maneira, acho que aprendi alguma coisa com cada experiência frustrada. Juro que não é conversa para boi dormir. Acho mesmo que quanto mais a gente se ferra, mais aprende. Comigo, pelo menos, tem sido assim. Já sou quase uma doutora no assunto e tenho dado muitas consultorias gratuitas por aí.
Mas nem tudo é tristeza no meu repertório amoroso. Tive encontros bem legais, mas que, por alguma razão, não foram adiante. Ou porque a distância atrapalhava (praticamente uma sina minha) ou porque não tinham que ser mesmo. No entanto, é bom dizer que por não viver atualmente uma história bonitinha, daquelas que as pessoas acompanham nas redes sociais feito novela, não significa que eu tenha me tornado uma mulher amarga, rancorosa nem ingrata, embora o Latino diga o contrário. Só acho, de verdade, que a minha felicidade não depende apenas disso. Sigo tentando, continuo tendo encontros legais e eles, eu juro, têm me bastado. Pelo menos por enquanto. Hoje, erro menos, rio mais e assim, tenho me tornado a mais bem resolvida mulher solteira de que se tem notícia.

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Freestyle


O meu ponto se aproximava, eu puxei a cordinha e o motorista gritou lá da frente: "cuidado com o degrau!". Em pensamento, eu ri. Ri porque não tem mistério descer do ônibus. Ri porque ando de ônibus há anos e isso nunca foi um problema. Pensei: "ah, moço, faça-me o favor, né? Não carece me dar esse alerta, não". O ponto chegou, eu desci e... derrapei. O degrau tinha virado uma rampa de freestyle e eu só não fui pro chão porque Deus não quis.

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Manual da Mulher Solteira - Parte 2


Há algumas semanas, eu escrevi a primeira parte da minha análise sobre oManual da Mulher Solteira, lançamento da Editora Guarda-chuva. Hoje, falarei um pouco mais sobre o livro e o quanto eu me identifiquei com ele.
O “Manual da Mulher Solteira” é daqueles livros que a gente lê concordando com a cabeça. Elizabeth Koosed, a autora, conta passagens de sua vida e prova que, sim, muitas de nós temos os mesmos dilemas, as mesmas frustrações e as mesmas pieguices. Ela mostra também quão significativa é a maturidade na vida de uma mulher e o quanto isso nos ajuda a tomar decisões e a se livrar de bobagens que, em algum momento, equivocadamente supervalorizamos. Ok, a maturidade faz coisas incríveis na vida de qualquer ser humano, independente do sexo, mas vou me limitar ao feminino por razões óbvias. Eu me identifiquei tanto com ela em vários trechos, que fiquei com vontade de ser sua amiga, daquelas que andam de mãos dadas pela rua, cochicham pelos cantos e assistem juntas “Dirty Dancing”, na Sessão da Tarde, com lágrima no canto do olho.
Não tenho a menor intenção de, neste texto, parecer uma espécie de guru de relacionamentos amorosos. Isso eu deixo para a Regina Navarro. Além de não ter formação nem interesse em me aprofundar tanto assim no assunto, estou longe de ser a pessoa ideal para dar conselhos do tipo para alguém. O que esperar de uma mulher que não consegue sustentar um papo com um cara só por que ele teve a infelicidade de ter sido registrado como Gleibson? Gleibson, do latim, “adorável”, segundo a Internet. Quais as chances de eu ser uma psicanalista eficaz desse jeito? Nenhuma! Mas, convenhamos: apresentar alguém chamado Gleibson para parentes e amigos está longe de ser uma tarefa fácil. “Gleibson” é um nome que não dá brecha para apelidos. Glei? Gleib? Gleibinho? Gleibão? Não dá.
O que eu quero mesmo é falar das coincidências que tenho com a autora, com algumas amigas e do que a gente se sujeita quando está apaixonada. Lembrei, por exemplo, de uma amiga que assistia vídeos de zouk, no YouTube, porque o cara com quem se relacionava, amava o gênero musical, dizia que a levaria para dançar num clube e ela, que nunca tinha dançado aquilo na vida, não queria fazer feio. Resultado: de tanto assistir, ela acredita ter virado uma expert em zouk, embora nunca tenha arriscado um passo sequer em outro lugar além de sua própria casa.
Elizabeth Koosed fala também de liberdade e bem-estar e do quanto isso independe do nosso estado civil. É verdade. Nós somos tão cobradas, tão fiscalizadas o tempo todo, que as pessoas se sentem muito confortáveis em dar palpites sobre absolutamente tudo. Sem que a gente peça. Sem que a gente demonstre qualquer interesse em saber a opinião dos outros sobre o que diz respeito única e exclusivamente a nós mesmas. É como se casamento e filhos legitimassem a felicidade de alguém. É óbvio dizer isso, mas não é necessariamente assim que as coisas são, não. Funciona com algumas pessoas, claro, mas não é uma regra.
Em um trecho, a autora diz que “a vida de solteira não é para corações fracos”. Ô! Só lida bem com a solteirice quem não está preocupada em viver uma fantasia nem em atender às expectativas alheias. Quero casar? Quero. Quero ter filhos? Também quero. E se não rolar nada disso? Tudo certo. De verdade, tudo certo! Não faço parte do grupo de mulheres que rejeitam completamente a ideia de entrar num casamento nem do das que têm isso como meta. Digamos que eu sou o elo perdido entre esses dois grupos. Quero somente levar a minha vida do jeito que eu levo, sem urgência, sem desespero e deixando que as coisas aconteçam no tempo delas. Viver uma felicidade de fachada, definitivamente, não é para mim.
Costumo dizer que eu queria ter nascido Carrie Bradshaw para viver em Manhattan, ser uma escritora de sucesso, o alvo da disputa do Aidan e do Mr. Big, a queridinha dos estilistas mais badalados de NY e ainda contar com a sorte de ter uma Samantha Jones como BFF (imagina que sonho?). Tudo isso sendo a Sarah Jessica Parker, que não satisfeita em ter tanta sorte na ficção, laçou o Matthew Broderick na vida real. Acho que, na verdade, eu queria ser a Sarah Jessica Parker… Bom, o fato é que a Carrie tem o meu ideal de vida (nem tanto, tô forçando um pouco a barra). Só não é completamente porque eu sou, de verdade, muito feliz desfilando por aí com um vestidinho da coleção primavera/verão da Leader. Sou uma pobre conformada, por assim dizer. Ainda assim, estou longe desse “ideal Carrie”. Bem longe.
Solteira, casada ou num relacionamento não muito sério. Não importa o meu estado civil. Não importa o que eu quero para a minha vida. O que me interessa é ter bons encontros, conhecer gente bacana, fazer boas escolhas e tomar decisões que, acima de tudo, me valorizem. Elizabeth Koosed, muito sabiamente, apresenta situações comuns à maioria de nós – especialmente quando um cara que nos interessa cruza o nosso caminho – e sugere de que formas podemos conduzi-las a nosso favor. Não é lição de moral, não é autoajuda, não é papo de psicóloga de botequim. É apenas uma troca bem legal o que ela promove no livro. Vale a pena ler.
Por fim, quero ser lembrada como uma boa companhia na hora de tomar umas caipirinhas, de sentar em algum canto para rir da vida, para lamentar, para ouvir quem quer ser ouvido (e ser ouvida também!) ou até mesmo para sair por aí à procura de alguma casa do Rio de Janeiro que toque zouk, gênero que eu, modéstia à parte, domino como ninguém.

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Baldeação


Saí, há pouco, do Jardim Botânico e pensei: "ah, não vou descer na Alvorada, não. Vou pegar um ônibus direto pra casa. Essa hora não vai ter trânsito mesmo... Não preciso de BRT". Quebrei a cara. Tinha. Estava tudo parado na Américas, na Ayrton Senna e, segundo a minha informante do banco de trás, na Linha Amarela, no Anil e na Freguesia também.
O que eu fiz? Na primeira oportunidade, desci pra pegar o BRT voltando pra Alvorada (é só um ponto) pra de lá pegar o expresso que me deixaria em Madureira sem passar por um engarrafamento sequer. E assim eu fiz. Desci do 565, subi passarela, desci passarela e peguei o BRT. Nele, um homem chato pregando (sim, eles estão por toda a parte) e meia dúzia de passageiros exaustos, não sei se pelo fato de terem chegado ao fim de mais um dia de trabalho ou por terem que aguentar aquele homem chato, falando pelos cotovelos, e com a animação de um chefe de excursão.
Cheguei na Alvorada, entrei na fila (três ônibus param para essa única fila, é o samba do crioulo doido!) e o homem que pregava no outro ônibus parou atrás de mim. Ele me abordou e...
HOMEM: Boa noite!
EU: Boa noite!
HOMEM: esta fila é do ônibus que vai pro Fundão?
EU: também.
HOMEM: amém! Esta fila é do ônibus que vai pro Fundão?

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Modo esquilo


Estão dizendo por aí que sei lá quem previu que o mundo irá acabar hoje. Eu queria apenas pedir ao universo que, por piedade, bote um ponto final nisso tudo aqui mais lá pro fim do dia, só depois da minha ida ao dentista. 


Eu posso explicar. Há um mês, mais ou menos, quebrei um dente (sim, mais um) durante o jantar de aniversário de uma amiga. Foi um vexame, eu tive que ir embora à francesa, deixei meus amigos preocupados, fui parar numa emergência odontológica, tarde da noite, e ainda arrastei uma amiga que, coitada, me acompanhou nessa caça ao dentista perfeito. Hoje, finalmente, finalizarei o tratamento que comecei naquela mesma semana. 



Com esse dente quebrado do lado direito e um canal que fiz, há um ano, no lado esquerdo (eu também tinha quebrado esse outro dente), fiquei receosa de comer qualquer coisa em ambos os lados. Pra poupá-los e evitar o pior, tenho concentrado a mastigação nos dentes dianteiros. Virei um esquilo, praticamente. 



Bom, voltando ao papo sobre o fim do mundo. Não quero encerrar essa minha passagem pela Terra com um dente remendado. Quero ser merecedora de chegar, sabe lá Deus onde, com o dente bonitinho. Portanto, universo, eu suplico: antes da minha ida ao dentista nem pensar, tá? Agradeço desde já.

Igual à Beyoncé


Enquanto isso, na fila do BRT...
"O cara teve a coragem de trocar a mulher e os filhos por uma mulher igual à Beyoncé!"

Te contar que até eu ficaria mei balançada... Mentira, ficaria, não. Família é tudo nessa vida, mas, porra... UMA MULHER IGUAL À BEYONCÉ?! É pra deixar um cidadão comum em dúvida, né, não? Pensa só. Mas sejamos corretos e justos. Tome vergonha nessa cara, moço, largue a Beyoncé e volte pra sua família. Isso aí não tem futuro, não. Foi só um rio que passou em sua vida.

domingo, 4 de outubro de 2015

Manual da Mulher Solteira - Parte 1 (de não sei quantas)

Editora Guarda-chuva me convidou para participar do lançamento do livroManual da mulher solteira: um guia para amar e curtir (sozinha ou acompanhada), de Elizabeth Koosed. Para esta ação, foram selecionadas mulheres que, segundo eles, pensam, escrevem, não têm medo de contradições e que, de alguma maneira, tratam do que é ser mulher hoje em dia em suas redes, sites ou negócios. Adorei o convite e topei na mesma hora!
Não pretendo fazer o tipo mulher-encalhada-frustrada-desesperada-para-arrumar-marido. Não. Definitivamente, não. Até por que este não é o objetivo do livro (não mesmo) tampouco o meu. Também não tô a fim de fazer a linha mulher superbem resolvida, nada insegura, que não tem conflitos, paranoias nem toda a sorte de complicações que nós, tão-somente nós – ah, grande parte das mulheres, vai! –, temos.
Quero analisar o livro – que é bem bacana, diga-se de passagem – e tentar traçar um paralelo com a minha vida, que é cheia de dramas (sou a mais canceriana das cancerianas, logo…) e mostrar que Kotler tem lá os 4Ps dele, mas eu também tenho aqui os meus que me definem muito bem: bem pateta, bem patética, bem previsível e bem precipitada. Sou também do tipo que cria mil expectativas com tudo e com todos e, como um amigo muito bem se define (vou roubar essa, Fil!), sou boba para a idade. Sofro, sofro, sofro nessa minha vida de mulher solteira que anda de condução lotada, que adora observar os outros na rua, que se apaixona e quebra a cara, que comete os mesmos erros e não aprende, aí acerta e erra de novo, que mal sabe passar um batom, que ainda não se entendeu direito com o próprio cabelo, que não se leva a sério e, sobretudo, que ama e curte muito. Sozinha ou acompanhada.
Esta é apenas a primeira parte. Ainda não sei quantas publicações serão, mas, nas próximas, à medida que a leitura for avançando (tô chegando na metade), falarei um pouco mais sobre a minha experiência com o livro e um pouco sobre a minha vida, as minhas histórias… Mas não pretendo falar detalhadamente sobre os meus romances bem-sucedidos nem sobre os mal resolvidos – estes, sempre rendem mais histórias e, não à toa, são maioria – por um motivo muito nobre: porque não. Mas se eu mudar de ideia e resolver esmiuçá-los aqui, tudo bem também. O pessoal da Guarda-chuva curte quem não tem medo de contradições.

O Diabo Veste Saia



VÓ: hoje eu vou mandar em todo mundo. O meu cabelo não tá igual ao daquela mulher daquele filme "O Diabo Veste Saia"?

EU: é Prada!

VÓ: ah, tanto faz! Tem tudo nome parecido!

Não, o cabelo dela não tem nada a ver com o da Miranda Priestly. Mas concordei, claro. Durante anos, ela jurava que tinha o cabelo igual ao da Odete Roitman. Agora jura que está a cara da Miranda. Aparentemente, vovó não curte cabelos das mocinhas.
Tem outra coisa também. Minha avó tem uma mania curiosa: sempre que pinta um evento importante pra ir de manhã, ela vai ao salão na véspera e passa a noite toda dormindo sentada no sofá pra não desmanchar o cabelo. Não há uma criatura capaz de convencê-la do contrário. Ela só não passa por isso quando consegue um horário no salão no mesmo dia do evento. No próximo sábado, meu primo vai casar à tarde. Dona Yedda já tinha planos de passar mais uma noite imóvel, na sala de casa, pra chegar belíssima ao enlace de Cadu, mas, por sorte, conseguiu um horário pela manhã. Amém? Amém!